Título: Recuperação à vista
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 30/08/2008, Economia, p. 39

Com IGP-M negativo, aplicações voltam a ganhar em agosto. Dólar lidera, mas Bolsa cai 6%

Felipe Frisch

Depois de dois meses sem conseguir superar a inflação, as aplicações financeiras tiveram um mês de trégua em agosto. Com a deflação de 0,32% registrada pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) em agosto, até mesmo os conservadores fundos DI e renda fixa - que compram títulos públicos do governo - voltaram a ter ganhos reais no mês. Ou seja, o dinheiro aplicado não perdeu poder de compra, rendeu acima da inflação. A liderança na corrida entre investimentos e indicadores ficou com o dólar. Desde março sem fechar um mês em alta, a moeda americana teve valorização de 4,60% no mês.

Com a expectativa de recuperação da economia americana, a queda do euro e das commodities (matérias-primas, como petróleo e aço), os fundos cambiais, que fazem operações no mercado futuro para acompanhar a variação do dólar, tiveram valorização de 4,46% até o dia 26, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

Já o investimento em ações voltou a figurar como a pior opção no mês e no ano. Em agosto, o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Índice Bovespa (Ibovespa), acumulou queda de 6,43%. No ano, a perda já chega a 12,84%. Os fundos atrelados a este mercado ficaram na lanterninha entre as aplicações, caso dos fundos de quem aplicou parte do FGTS em ações da Vale e da Petrobras, cujas perdas no mês foram de 10,86% e 4,44%, respectivamente. No ano, os prejuízos médios dessas duas carteiras já chegam a 29,45%, nos fundos de ações da Vale, e 19,36% nos da Petrobras.

No ano, inflação ainda ganha

Os fundos DI (que acompanham a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13% ao ano) registram ganho de 0,87% até dia 26, e os de renda fixa (prefixados, que apostam na queda da taxa), de 0,82%. No ano, os ganhos são de 7,38% e 8,02%, respectivamente. No entanto, como no ano o IGP-M ainda acumula alta de 8,35%, a inflação pelo índice que reajusta os aluguéis ainda supera as principais aplicações no ano.

O superintendente de investimentos do Banco Real, Eduardo Jurcevic, pondera, no entanto, que o mais adequado seria comparar seus rendimentos com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que, segundo ele, refletiria mais adequadamente a variação de preços. O IPCA é o índice oficial do governo, que serve como referência para o sistema de metas de inflação. No ano, registra aumento nos preços de 4,87% até julho. O índice de agosto ainda não foi divulgado.

- O IGP-M pega algumas variações que não necessariamente são sentidas pelas pessoas, ele não reflete a realidade dos preços. O índice que melhor faz isso é o IPCA e as aplicações não estão perdendo para o IPCA - avalia Jurcevic.

Depois da Bolsa, os fundos multimercados - que investem em diferentes segmentos, como juros, moedas e ações - se revelaram a pior aplicação, com rentabilidade de apenas 0,11% no mês, perdendo até da poupança, que teve um modesto 0,66%. Para Felipe Cruz, gestor da Argucia Capital Management, o mau desempenho dos multimercados também está relacionado ao investimento dos gestores das carteiras em ações.

Para quem se anima ao ver o dólar subindo, o gerente de câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, não acredita que o movimento de alta se mantenha. Para ele, a moeda, que fechou o mês a R$1,635, não deve passar de R$1,65 em setembro e de R$1,70 até o fim do ano, o que pode significar um ganho pequeno, de 4% até lá, se a variação se confirmar.

Bolsa brasileira perde das demais

Embora a queda das ações não seja exclusividade da bolsa brasileira, em dólar, o Ibovespa só ganhou da Bolsa da Rússia no mês, entre os principais mercados de ações. Enquanto a brasileira teria queda de 10,05%, considerando a variação cambial, a russa acumulou perda de 14,19%.

Apesar de toda a crise ser originada no setor financeiro americano, os índices de Nova York foram os únicos que subiram no mês: 1,45% pelo índice Dow Jones e 1,80% pelo índice Nasdaq. No ano, a bolsa brasileira cai 4,88% na moeda americana, menos do que boa parte de suas concorrentes. No ano, o índice Dow Jones, por exemplo, acumula perda de 12,98%.

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