Título: Entre os doadores de 2006, bispos, pastores e obreiros da Universal
Autor: Vasconcellos, Fábio ; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 31/08/2008, O País, p. 4
Na campanha deste ano, informação sobre tesoureiro é tratada com sigilo
Fábio Vasconcellos e Maiá Menezes
Das menores até as mais altas doações, a ligação com a Igreja Universal ou com a TV Record é ponto em comum entre os que contribuíram, em 2006, para a campanha do então candidato ao governo do estado pelo PRB, Marcelo Crivella. Na análise da lista de 800 nomes, os dois maiores doadores são José Roberto Mauzer, com R$110 mil, e Alba Maria Silva da Costa, com R$27 mil. O primeiro aparecia, até 2006, como cotista da TV Record de Bauru. A segunda, em 2007, como sócio da Rádio Cultura Fluminense e da Rádio Cultura Gravataí, ligadas à Universal. Alba Maria foi alvo de inquérito do Ministério Público Federal de São Paulo, sob acusação de lavagem de dinheiro. O processo foi arquivado, em 2006, pelo Superior Tribunal de Justiça. Mauzer e Alba Maria não foram localizados pela reportagem.
Na linha defendida anteontem pelo senador, que condenou os adversários por financiarem as campanhas com recursos de grandes empresas, a de Crivella recebeu apenas 2,55% do total de recursos de corporações em 2006. Entre as contribuições, R$39,3 mil saíram da Terra Santa Construtora Ltda, da Parce Processamento de Dados e Promoções, da Nova Mercante Produções e da Exata Produções. O comitê financeiro do partido doou R$59 mil e o diretório do PRB, R$460 mil. No total, Crivella declarou ter arrecadado cerca de R$1,5 milhão.
Tesoureiro da campanha de Crivella em 2006, o bispo Natal Furuncho, hoje diretor da TV Record em Brasília, doou R$10 mil. O coordenador da campanha deste ano, Isaias Zaverise, disse, depois de insistência, na noite de sexta, que prestar a informação sobre o nome do tesoureiro cabe ao partido, não ao candidato.
Na lista, dirigentes de entidades ligadas à igreja
Na prestação de contas do então candidato ao governo do estado do PRB, há ainda contribuições de pastores e dirigentes de entidades filantrópicas ligadas à Universal, como a Associação Beneficente Cristã (ABC). A ABC, criada em 1994, tem título de utilidade pública federal e existe na Argentina, no Chile, na Venezuela, no México, no Japão, em Portugal e na África. Presta serviço voluntário de atendimento médico e assistência jurídica a pessoas de baixa renda.
A resolução 22.715 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe candidatos ou partidos de receberem, direta ou indiretamente, doações em dinheiro ou estimável em dinheiro (caso dos voluntários) de instituições religiosas. A discussão sobre o que é de fato doação indireta, no entanto, já foi definida pelo TSE.
O procurador-regional eleitoral Rogério Nascimento explica que o TSE definiu que doações de pessoas físicas não podem ser confundidas com a pessoa jurídica. Ou seja, mesmo que uma pessoa faça parte de uma instituição religiosa, o tribunal entende que ele pode doar dinheiro para políticos.
- Defendi que esse tipo de doação representava doações indiretas e, portanto, não poderiam ser autorizadas. Mas o tribunal já decidiu sobre a questão em 2006, entendendo que não era irregular - afirma Nascimento.
No cruzamento das informações da lista é possível verificar ao menos três grupos de financiadores. No primeiro estão os fiéis que prestaram serviço voluntário como cabos eleitorais. Nesse caso, eles apenas figuram como doadores de quantias "estimadas", isto é, não representam entrada de dinheiro. No segundo grupo de doadores estão os pastores e obreiros, que contribuíram com valores entre R$1 mil e R$2 mil.
Morador de São João de Meriti, Alexandre da Silva Costa é pastor da Universal. Na semana passada, sua mãe informou que ele havia sido transferido para Brasília. Dona Cleusa confirmou que o filho, que recebe apenas ajuda de custo, doou R$2,5 mil para a campanha de 2006 de Crivella. Perguntada se saberia o motivo da contribuição, a mãe do pastor diz que Alexandre sempre faz doações. Próximo ao templo da Igreja Universal da Abolição mora mais um pastor da Universal que contribuiu com a campanha de Crivella. Nas contas do candidato do PRB consta a doação de R$1,6 mil de Adilson Oliveira de Andrade, que mora no Cachambi.
Existem ainda bispos e doadores sem ligação com a Universal que contribuíram com valores entre R$1 mil e R$110 mil. Estão ainda na lista dos maiores doadores o bispo Darlan de Ávila Lima, que foi sócio de Marcelo Crivella até 2003 na TV Record de Franca (SP) e, até 2007, como sócio da TV Goya, afiliada da Record em Goiás. Ele contribuiu com R$25 mil. Consta ainda o nome do empresário Benjamin Nasario Fernandes, que é dirigente da Benafer S/A Comércio e Indústria, uma das maiores atacadistas de ferro e aço do país: doou R$30 mil. Ele não tem ligação com a Universal.