Título: Operadora nova, número velho
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 31/08/2008, Economia, p. 31

Com portabilidade, 21% dos clientes mais rentáveis de celular devem trocar de empresa

Bruno Rosa

Onúmero é o mesmo, mas a operadora... A portabilidade numérica na telefonia - que começa amanhã em algumas cidades do país e chega ao Estado do Rio somente em fevereiro - vai acirrar a competição das empresas de telefonia móvel em torno dos usuários mais rentáveis, os da base pós-paga (de conta), que somam 25,7 milhões, 19% do mercado nacional. Segundo pesquisa do banco Morgan Stanley, cerca de 5,4 milhões, ou 21% das pessoas que pagam contas mensais, pretendem mudar de companhia e manter o número de telefone. No caso da telefonia fixa, em que as mudanças também serão possíveis, o impacto será menor, atestam especialistas, mas as concessionárias, como Oi, Telefônica e Brasil Telecom (BrT), perderão espaço para as concorrentes.

A portabilidade ainda nem começou e as operadoras já iniciaram uma guerra de preços e de comerciais. Vivo, Claro, TIM, Oi e Telefônica disseram que não vão cobrar taxa alguma para atrair os consumidores das concorrentes. Com isso, afirmam analistas, o recurso deve ter forte aceitação no país, colocando o Brasil no topo de utilização mundial. No Reino Unido, por exemplo, a taxa de 30 libras (cerca de R$89) transformou a portabilidade em um fracasso.

O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg, crê que, no primeiro ano de vigência do serviço, 5% dos pouco mais de 175 milhões de assinantes de telefonia fixa e móvel recorrerão à portabilidade, uma taxa que ele chama de "realista". O consultor Virgílio Freire diz que o churn (média da taxa de desconexão dos clientes) na telefonia móvel, hoje em 2,7%, vai chegar a 5% quando a portabilidade estiver em todo o país - a migração acaba em março.

- As operadoras vão usar planos promocionais e aparelhos mais em conta para atrair clientes. O uso da terceira geração (3G) será um grande catalisador de novos consumidores. É por isso que os usuários de pós-pagos serão o alvo. As pessoas que usam pré-pago (de cartão) podem até mudar, mas em menor intensidade, pois não têm vínculo com o número e usam vários chips - explica Freire.

Susana Salaru, analista do Unibanco, ressalta outro aspecto fundamental para o sucesso do serviço: o período de transição de números dos clientes entre as operadoras. No Brasil, será inicialmente de cinco dias e, em 2009, de três dias. Na Holanda, por exemplo, onde a portabilidade não emplacou, é preciso esperar até 12 semanas.

- No Brasil, a principal barreira para mudar de operadora móvel é perder o número antigo. No setor de fixa, empresas como Net e GVT tendem a ganhar mercado, pois não têm obrigação de cobertura, como as concessionárias. Assim, vão oferecer o serviço apenas em áreas rentáveis.

Na telefonia móvel, dizem especialistas, as operadoras menores serão as mais prejudicadas, pois não têm área de cobertura nem recursos financeiros como as gigantes. A pesquisa do Morgan Stanley indica que o preço dos planos no Brasil é o principal motivo a estimular a troca.

O estudo revela ainda que os usuários mais velhos estão menos dispostos a migrar, enquanto homens estão mais propensos à portabilidade. E quanto menor a renda do usuário, mais ele se diz disposto a trocar.

Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, as operadoras terão preços agressivos:

- No Japão, a Softbank, terceira maior operadora móvel, passou a crescer mais que a líder NTT DoCoMo, só com preços mais agressivos.

COLABOROU Mônica Tavares

NO RIO, USUÁRIO JÁ PODE MANTER NÚMERO AO MUDAR DE ENDEREÇO, na página 32

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