Título: General Félix pôs cargo à disposição
Autor: Camarotti, Gerson; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 02/09/2008, O País, p. 03

BRASÍLIA. Nos momentos mais tensos da reunião da coordenação de governo, ontem no Planalto, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, chegou a pôr o cargo à disposição. O general fez uma forte defesa da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirmando estar convencido de que a instituição não participou da ação que resultou no grampo de conversa telefônica do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Diferentemente do general, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo, disse que havia uma forte evidência da participação de setores da Abin, diante do histórico do caso, e defendeu que, por isso mesmo, era preciso dar uma resposta imediata.

Depois que vários ministros cobraram providências do governo, Félix disse ao presidente Lula que ficasse à vontade para afastá-lo do cargo. O gesto do general surpreendeu os ministros presentes, mas Lula não o levou em consideração, insistindo, porém, que era preciso afastar o comando da Abin, para facilitar a investigação. O presidente chegou à reunião de coordenação política, no fim da tarde, já decidido a afastar a direção da Abin.

Numa intervenção enfática, afirmou que estava caracterizada a violação do sigilo telefônico da maior autoridade do Judiciário, e que a melhor solução para facilitar a investigação seria afastar o comando da Abin.

Lula também determinou a investigação da denúncia de que ministros do Palácio do Planalto, e até seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, estariam grampeados. Afirmou, durante a reunião, que "há um descontrole generalizado na prática de grampos em Brasília" e que "não é uma banalidade" grampear o presidente do Supremo.

No início da noite, o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, esteve no Planalto e foi comunicado pelo próprio general Jorge Félix da decisão de Lula. Félix ficou encarregado de apresentar um interino para o cargo. Ao tomar essa decisão, Lula evitou fazer qualquer prejulgamento de Lacerda, mas, ao mesmo tempo, deu uma resposta política.

Desde que estourou a Operação Satiagraha, as autoridades do Planalto não escondem o desconforto com a atuação de Lacerda na Abin. Isso ganhou força com a participação de agentes da Abin nessa investigação, o que foi considerado um desvio de função do órgão de inteligência. Também há grande desconforto com o fato de o general Félix ter um comando limitado da Abin.