Título: No Planalto, ministros do Supremo mostram indignação ao presidente
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 02/09/2008, O País, p. 04
BRASÍLIA. Foi de indignação o tom da conversa dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro Gilmar Mendes, presidente da Corte e alvo de grampo clandestino, foi ao Planalto acompanhado do vice-presidente, Cezar Peluso, e de Carlos Ayres Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Gilmar pediu medidas enérgicas a Lula e afirmou que a prática da escuta ilegal virou rotina no país.
Gilmar contou a Lula que, durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, recebeu telefonema de uma desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, em São Paulo, dizendo que ele estaria sendo grampeado. A assessoria do STF negou que os ministros tenham exigido demissões na Agência Brasileira de Investigação (Abin) ou na PF.
À tarde, Gilmar convocou os integrantes da Corte para relatar o encontro com Lula. Depois de mais de uma hora trancados no gabinete da presidência do STF, os ministros deixaram o local em silêncio. Ao fim da reunião, o secretário de comunicação do tribunal, Renato Parente, leu uma nota informando que ninguém daria entrevistas. Segundo o texto, os ministros "decidiram aguardar as providências exigidas pela gravidade dos fatos". Não houve nova manifestação da Corte mesmo depois da decisão de Lula de afastar a diretoria da Abin.
Procurador suspeita que escuta não foi de órgão oficial
Também ontem, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, disse que não acredita que a ordem de grampear o presidente do STF tenha saído de órgãos oficiais. Ele não descarta a possibilidade de a escuta ter sido instalada por um funcionário insubordinado ou mesmo uma pessoa desvinculada do poder público.
- Pelas informações que tenho, não tenho certeza de que tenha sido ato de servidor público. Não acredito que nenhum órgão público, nenhuma instituição séria tomaria iniciativa de promover atos tão acintosos à ordem nacional - disse. - Essas observações minhas quanto a não ter certeza quanto a origem não desqualifica a gravidade da conduta de quem fez, seja particular seja servidor público. Antonio Fernando disse que, como os diálogos podem ter sido destruídos, a investigação sobre a origem do grampo será difícil, mas deve ser levada adiante.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou nota de repúdio aos grampos ilegais. A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também condenou as escutas.