Título: Lula diz que afastou diretoria da Abin para dar transparência à investigação
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Fonte: O Globo, 03/09/2008, O País, p. 4

VITÓRIA, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Vitória, que decidiu afastar a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para demonstrar que há total transparência no processo de investigação das suspeitas de grampos ilegais no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes.

- Eles foram afastados e não demitidos para poder mostrar que há transparência na investigação. Se algum de vocês sabe quem é a fonte e quiser facilitar, a gente vai resolver logo o problema. Se não, a gente vai ter que investigar - disse Lula aos jornalistas, referindo-se ao fato de que gravações das conversas de Gilmar terem sido reproduzidas por uma revista, a "Veja".

O vice-presidente José Alencar afirmou, em São Paulo, que não há mais segurança nas comunicações no país:

- Hoje não há segurança de nenhum brasileiro em relação a telefone ou mesmo internet e e-mail. O Brasil não pode conviver com essa questão de grampos absolutamente fora da lei. Fora da lei, não há salvação.

"Tem que apurar e punir. Isso é foco"

Com receio de que o governo tente transferir a crise do grampo para o Congresso, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) reagiu à sugestão do Planalto de acelerar a votação do projeto de lei do Executivo que altera as regras da escuta telefônica legal. Chinaglia destacou que já há lei, hoje, proibindo a escuta ilegal e impondo pena de reclusão de dois a quatro anos para os que cometerem esse crime, e que não se deve desviar o foco. Para ele, o importante agora é descobrir quem fez os grampos e punir os culpados:

- Isso (votar nova lei do grampo) é conversa mole. Se há crime, tem que ser investigado e apurado. Existe lei que pune com dois a quatro anos de prisão. Misturar os dois assuntos seria tentar arranjar uma desculpa. Tem que apurar e punir, isso é foco.

A chefe da Casa Civil Dilma Roussef disse, em São Paulo, que não há crise institucional por causa do caso dos grampos. Para ela, é "absurdo" considerar que o episódio mostre que a Abin fugiu do controle.

- O governo está em pleno exercício da sua situação. Nós vivemos um dos melhores momentos que esse país passou - afirmou ela, no seminário "O Brasil que queremos ser", promovido pela editora Abril pelos 40 anos de "Veja".

Também no evento, o governador José Serra (PSDB) considerou "deplorável" o episódio, que considerou um "problema institucional".

- Foi um episódio deplorável que precisa ser combatido com energia. Ele é um insulto à democracia. A existência de forças paralelas clandestinas fazendo esse trabalho de escuta, isso contra qualquer cidadão, sem autorização judicial, é um problema institucional porque envolveu um senador e o presidente do STF.

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) considerou prudente o afastamento do delegado Paulo Lacerda, diretor da Abin.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 03/09/2008 03:19