Título: Do 'cofrinho' de Mantega ao submarino de Jobim
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 03/09/2008, Economia, p. 23

BRASÍLIA. Desde que começaram para valer as discussões sobre o uso futuro das megarreservas do pré-sal, os bilhões de barris nas profundezas da costa - que só serão bombeados comercialmente, na melhor e mais otimista das hipóteses, em 2012 - já foram "leiloados a vários donos". Mesmo sem qualquer noção sobre quanto o pré-sal pode render aos cofres públicos, seis ministros de Estado reivindicaram publicamente seu quinhão.

O desafio será convencer o presidente Lula e o Congresso, porque dinheiro não há de faltar. Com as reservas já conhecidas, o Planalto considera hoje café pequeno a poupança da Noruega com o óleo de suas jazidas: US$465 bilhões (R$768 bilhões).

- Se eles têm isso, imagine nós! Teremos muito, mas muito mais - resume um dos integrantes da comissão interministerial criada para elaborar a proposta federal de exploração das reservas.

Na corrida ao "bilhete premiado", como Lula se referiu ao pré-sal, o ministro mais feliz é Fernando Haddad. Sem uma única palavra, é titular da pasta que dificilmente perderá o posto de maior beneficiada: a Educação. Além do próprio Lula, que vê nesta destinação uma forma de quitar uma dívida histórica com as classes menos favorecidas e erradicar a miséria, Haddad conta com a bênção de Dilma Rousseff.

A ministra da Casa Civil crê que o pré-sal pode garantir "educação fundamental de ponta" e treinamento a professores. Ela e o presidente são sensíveis, porém, ao uso "social dos recursos". E é na carona deste termo que outros vêm a reboque.

O ministro da Previdência, José Pimentel, esteve com o presidente do Senado, Garibaldi Alves, semana passada, e defendeu que parte do rombo nos benefícios rurais (R$18,87 bilhões até julho) seja coberto com recursos do pré-sal.

Já José Gomes Temporão diz que, déficit por déficit, a Saúde tem imenso passivo, apesar dos R$50 bilhões no Orçamento de 2008. Para ele, a verba não atende "os direitos constitucionais da população".

- Estou torcendo para que a Saúde seja contemplada pelos recursos do pré-sal - disse semana retrasada.

O novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, acredita que as atividades que representa também têm função social. Em sua posse, não titubeou diante de Lula:

- Eu acho que 1% do pré-sal deve ser para a cultura, porque é uma necessidade fundamental para o novo ciclo do Brasil.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, utilizou o palanque do Dia do Soldado para defender que a Marinha tenha elevada sua participação obrigatória nos royalties e na participação especial recebidos pela União (8,3%). Os recursos têm sido contingenciados. Jobim quer que o pré-sal financie a modernização da frota, sobretudo com a construção de submarinos.

Ministro da Fazenda, Guido Mantega tampouco se fez de rogado. Quando anunciou o Fundo Soberano Brasileiro, sinalizou que parte da arrecadação federal pode ser guardada em seu "cofrinho".