Título: Brasil, o país da felicidade daqui a cinco anos
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 03/09/2008, Economia, p. 25

Brasil é o país da felicidade...No futuro. Pesquisa inédita divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que o Brasil lidera ranking com 132 países no quesito felicidade futura, traduzido para otimismo com os próximos cinco anos. A nota fica ainda melhor quando a comparação é feita somente entre os jovens de 15 a 29 anos: chega quase a dez (9,29), a expectativa máxima nessa pesquisa que se baseou em dados do Gallup World Poll, de 2006.

De acordo com o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, que fez o cruzamento dos dados, há dois fatores explicando essa posição de destaque no Brasil - o cultural e o econômico.

- Sem dúvida, a questão cultural pesou nessa avaliação. Mas estamos colhendo o investimento em educação dos últimos anos com o avanço trabalhista, principalmente dos jovens. Diante dessa realidade, não surpreende que os jovens esperem um futuro melhor - afirma o economista.

Neri refere-se aos indicadores educacionais que mostram, de 1992 a 2006, ganho médio de 3,1 anos de estudo na faixa etária de 15 a 29 anos contra a tendência histórica de ganho de um ano de estudo por década.

Pela pesquisa, o Brasil é mais feliz que sua renda permitiria. O índice de felicidade atual põe o Brasil entre os 22 melhores, enquanto a renda per capita deixa o país na 52ª posição. O ranking da felicidade presente é liderado pela Dinamarca.

- Somos mais felizes do que nossa renda indica, ao contrário do aconteceu com os países do Leste Europeu, que têm índice de felicidade inferior ao da renda.

Salário e o trabalho dos sonhos fizeram a estudante de moda Aline Tercete ter expectativas melhores para os próximos anos. Aos 21 anos, ganha de R$800 a mil reais, tem emprego fixo e muito trabalhos avulsos:

- Sempre quis fazer algo na área artística. Não imaginava que conseguiria tão cedo fazer o que exatamente o que eu queria, design de moda. O trabalho vem batendo na minha porta.

A expectativa melhor no futuro se sustenta no fim da faculdade e ter mais tempo para se dedicar também aos seus projetos de arte.

Renda dos jovens cresceu 10,9% ao ano de 2004 a 2008

- Minha rotina é muito puxada com o trabalho e o estudo. Daqui a cinco anos, acredito que estarei melhor.

E a melhoria salarial deve acompanhar a trajetória de Aline. Pelas contas do economista, houve ganho real de 10,9% ao ano de 2004 a 2008, levando-se em conta, inclusive, o avanço de escolaridade.

- É um crescimento baseado na renda do trabalho. E o prêmio por cada ano de estudo a mais aumentou 6,4% ao ano.

Mas o economista reconhece que, se o Brasil ainda estivesse vivendo a estagnação que sofreu nos anos 90, o país ficaria de fora dos melhores.

Esse fator econômico é o mais relevante para a socióloga Elisabete Dória Bilac, do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp. Dados conjunturais explicam esse índice.

- Essas pesquisas de felicidade estão na moda, mas são discutíveis. Como medir a felicidade? De fato, depois de tanta estagnação, viver o crescimento torna as pessoas mais otimistas - afirma.