Título: Insatisfação com Félix chega ao Planalto
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/09/2008, O País, p. 4

BRASÍLIA. Cresceu nas últimas horas, no núcleo do governo, a insatisfação com a atuação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, no episódio do grampo ilegal nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Até então poupado, Félix passou a ser contestado. Não apenas pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, seu principal crítico, mas por outros setores do governo. O próprio presidente Lula manifestou seu descontentamento depois do depoimento do general na CPI dos Grampos, onde, pela avaliação de assessores, ele teve um desempenho fraco, pois passou a impressão de que não tinha, de fato, controle sobre a estrutura de inteligência.

Apesar de Félix ter posto o cargo à disposição, uma substituição agora é descartada pelo Planalto, pois só agravaria a crise. Além disso, Lula não faria isso quando a oposição pede a cabeça do general.

Nas palavras de um colega de governo, o general tem demonstrado que não tem o controle da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deixa o governo e o presidente vulneráveis. Outro problema apontado é o fato de que, em várias situações, a Abin passou a funcionar como órgão auxiliar da Polícia Federal.

Avaliação é que general teve mau desempenho na CPI

Um assessor do governo observou que se Félix tivesse tido bom desempenho na CPI, teria contribuído para diminuir o potencial de crise institucional. Por essa versão, o general demonstrou desconhecimento sobre questões importantes, inclusive a operação de equipamentos de interceptações telefônicas. Outro registro é que ele deveria ter sido enfático ao afirmar que não era função da Abin fazer escuta telefônica e jamais ter admitido que o grampo poderia ter sido feito por servidores do órgão. Lula reconhece, internamente, as deficiências de Félix, mas, além de considerar um problema muito maior uma mudança no GSI, tem outra dificuldade, pessoal: aprendeu a gostar do general e acredita que ele é bem intencionado.

No episódio da Operação Satiagraha ficou claro o descontentamento de Lula com o desvio de função de agentes da Abin (que ajudaram a PF), sem uma intervenção de Félix. Também pesam as notícias de que há grampos em vários telefones do Planalto. Um ministro resumiu a atuação de Félix como uma "rainha da Inglaterra" do setor de inteligência.