Título: Lula age para evitar fogo amigo na CPI
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 25/05/2009, Política, p. 4

Para o Planalto, diferenças pessoais entre petistas e peemedebistas preocupam mais do que a ação da oposição na comissão da Petrobras. Múcio reforçaria ao presidente, ontem, que ¿os problemas são mais pessoais do que políticos¿ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrará em campo nesta semana a fim de impedir que a rixa entre PT e PMDB incendeie os trabalhos da CPI da Petrobras, a ponto de deixá-la fora do controle do governo. Durante viagem à Arábia Saudita, China e Turquia, na semana passada, Lula foi informado de que o embate entre os dois partidos e, principalmente, as divergências pessoais entre integrantes das duas bancadas têm potencial mais danoso ao Palácio do Planalto do que a atuação da oposição. Para auxiliares do presidente, PSDB e DEM trabalharão de forma ¿responsável¿, já que têm perspectiva de poder a partir de 2011 e comandaram a empresa durante oito anos.

¿Os problemas são mais pessoais do que políticos¿, disse ao Correio, ontem à tarde, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. À noite, ele teria uma reunião com Lula, no Palácio da Alvorada, para tratar do assunto. A ideia do ministro era apresentar as dificuldades relacionadas à CPI da Petrobras e discutir a estratégia dos governistas na comissão. Pelo menos por enquanto, a prioridade é acalmar os ânimos da base aliada. Na semana passada, os líderes do PMDB e do PT no Senado ¿ Renan Calheiros (AL) e Aloizio Mercadante (SP), respectivamente ¿ não conseguiram um acordo sobre quem serão os oito governistas titulares na investigação parlamentar.

Os dois também não chegaram a um consenso sobre a relatoria e a presidência da CPI. Depois do fracasso das conversas, Renan avisou a seus correligionários que não prestaria mais satisfações a Mercadante e a Múcio. Só bateria o martelo sobre esses dois pontos com o próprio presidente da República, que também comanda as negociações com o PMDB relacionadas à eleição presidencial de 2010. O líder peemedebista não suporta Mercadante. E vice-versa. Trata-se de um resquício do processo que resultou na renúncia de Renan, em 2007, da Presidência da Casa. Já a relação de Renan com Múcio está estremecida desde a eleição, no início do ano, para o comando do Congresso, quando o ministro defendeu em público a vitória de Tião Viana (PT-AC) sobre José Sarney (PMDB-AP).

Sarney venceu o páreo e alçou à cúpula do Senado, junto com ele, seus principais generais durante a disputa, casos de Renan e do líder do PTB Gim Argello (DF). Partido de Múcio, o PTB não se sente à vontade com os petistas, que mantêm o ministro sob fogo amigo. A sigla também prefere dialogar diretamente com o presidente da República. Para a CPI da Petrobras, os petebistas devem indicar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (AL), que deixou o Planalto na esteira de um processo de impeachment que teve como protagonistas o PT e Mercadante. ¿Não vou integrar tropa de choque. Vou para investigar¿, afirmou Collor na semana passada.

Comando Além de serenar os ânimos dos aliados, Lula terá de decidir sobre a relatoria e a presidência da comissão. Renan defende que o primeiro posto, considerado o mais importante, fique com uma legenda governista. Sugere o colega de bancada e líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Pela proposta, a presidência seria oferecida, num gesto de boa vontade política, ao DEM, que chegou a fechar um acordo, há duas semanas, para evitar a instalação da CPI da Petrobras. O nome sugerido foi o do senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA).

A proposta do peemedebista divide os petistas. Parte destes quer o governo nos dois cargos de comando. Uma parcela prefere outro democrata na relatoria, já que ACM Júnior disputará a reeleição em 2010, concorrendo a um posto cobiçado, entre outros, pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), o secretário estadual baiano Walter Pinheiro (PT) e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. ¿Só não pode ser o senador Álvaro Dias (PSDB-PR)¿, declarou um assessor presidencial, referindo-se ao mentor do requerimento de instalação da comissão.