Título: Esperança
Autor: Mercadante, Aloizio
Fonte: O Globo, 07/09/2008, Opinião, p. 7

O brasileiro é o povo que deposita mais esperanças no futuro próximo. Com efeito, na pesquisa efetuada pelo Instituto Gallup em 132 países, os brasileiros foram os que atribuíram a maior nota para o nível de satisfação com a vida esperado para 2012: 8,4 num máximo de 10. Ficamos à frente até da Dinamarca, país com o maior grau de satisfação com a vida presente. No que tange ao índice de satisfação atual, o brasileiro ficou na 22ª colocação, algo notável para um país em desenvolvimento.

Parte desse resultado pode ser atribuída à cultura do brasileiro. Somos um país de Natureza exuberante com um povo festivo, alegre e teimosamente otimista, apesar das frustrações que sofremos no passado. Também é necessário considerar o peso que a utopia do Brasil como "país do futuro" tem em nosso imaginário. Mas isoladamente esses fatores não podem explicar resultados tão significativos, até mesmo porque a pesquisa demonstra haver correlação positiva entre o grau de satisfação e otimismo, de um lado, e a renda média e as condições de vida da população, de outro. Assim, deve haver algo no Brasil do presente que está motivando essa forte expectativa otimista no Brasil do futuro.

De fato, há. Conseguimos domar em definitivo o fantasma da inflação, grande fonte de insatisfação popular e geradora de incertezas quanto ao futuro. De 12,5%, em 2002, ela passou para 4,46%, em 2007. Mesmo agora, em plena crise internacional, o repique inflacionário foi prontamente debelado. E a economia não pára de crescer. Nos últimos quatro anos, crescemos de forma sustentada a uma taxa média de 4,7%. Neste ano, cresceremos mais de 4,7%, enquanto a locomotiva internacional, a economia dos EUA, patina penosamente. Essa relativa imunidade foi alcançada graças ao esforço bem-sucedido de redução da vulnerabilidade externa da economia. Apesar de um preocupante déficit nas transações correntes, continuamos a expandir as exportações e temos reservas de US$203 bilhões. Obtivemos o grau de investimento no meio da tempestade. Essa situação é bem distinta da verificada em outras crises, quando ficávamos expostos às turbulências mundiais e tínhamos de nos submeter às exigências do FMI.

Uma economia saudável e em crescimento contribui para esse clima de otimismo. Porém, de nada adiantaria termos economia sólida e em expansão, se isso não se refletisse em melhorias nas condições de vida da população. Pois bem, de acordo com o Ipea, entre 2003 e 2008 o percentual de pobres nas regiões metropolitanas caiu de 35% para 24,1%, ao passo que o número de indigentes se reduziu de 13,7% para 6,6%. Só na cidade de São Paulo, mais de 1,1 milhão de pessoas deixaram a pobreza. No Brasil, já são ao redor de 20 milhões. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda e havia permanecido praticamente constante de 1970 a 2000, diminuiu de 0,627, em 2002, para 0,584, em 2008. A classe média, que representava apenas 42,49% da população, em 2003, pulou para 51,89%, em 2008. Conseguimos gerar mais de 10,5 milhões de empregos, e programas internacionalmente elogiados, como o Bolsa Família e o Prouni, vêm distribuindo oportunidades. Já figuramos entre os países com IDH alto.

Mas não é apenas o bolo econômico que cresce e é distribuído. A auto-estima do Brasil e do brasileiro também. Graças à política externa competente e audaz, o Brasil está superando aquilo que Nelson Rodrigues denominava de "complexo de vira-lata". A imprensa mundial reconhece o Brasil como potência emergente que tem muito a contribuir em áreas estratégicas, como a das energias renováveis e a da produção de alimentos. Não bastasse isso, as fantásticas descobertas de petróleo do pré-sal criam condições para que o país dê salto de qualidade em seu desenvolvimento e injetam novo "gás" no otimismo do brasileiro.

Nas eleições, a esperança venceu o medo. Agora, a esperança está vencendo a miséria, o desemprego, a falta de oportunidades e as incertezas quanto ao futuro. Trata-se de conquista deste governo, que soube manter, aperfeiçoar e implementar políticas consistentes que promoveram esse quadro positivo. Também é conquista da oposição séria, que sabe criticar sem apelar para a desqualificação do debate democrático. Mas acima de tudo ela é uma vitória desse extraordinário povo do Brasil, que tem esperança porque, ao contrário de setores da elite, acredita em si mesmo e em seu país. Neste 7 de Setembro, vivam o povo brasileiro e seu otimismo, os grandes promotores da felicidade e da Independência do Brasil.

ALOIZIO MERCADANTE é senador (PT-SP).