Título: Jobim insiste: Abin tem aparelhos para escuta
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/09/2008, O País, p. 12

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, voltou ontem a pôr lenha na fogueira da crise sobre o grampo ilegal nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e de senadores. Ele confirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) possui aparelhos capazes de fazer escutas telefônicas, comprados pelo Exército. De acordo com a legislação, a Abin não pode fazer interceptações telefônicas.

Jobim afirmou que os equipamentos da lista que entregou ao presidente Lula na última segunda-feira foram adquiridos por meio da Comissão de Compra do Exército em Washington. Segundo o ministro, a comissão também é utilizada por outros órgãos do governo:

- Na relação dos aparelhos adquiridos pela Abin, há uns que têm essas características de interceptação telefônica, outros não. Na relação que entreguei ao presidente, há uns que fazem varredura, há outros em que a menção é de aparelho de interceptação e os que são de audiência ambiental.

As declarações de Jobim foram dadas um dia depois de seu subordinado, o comandante do Exército, Enzo Martins Peri, ter negado ao GLOBO que os equipamentos comprados pela Força para a Abin fossem para escuta telefônica. Jobim fez as declarações minutos após estar ao lado de Peri, em encontro no Tribunal Superior Eleitoral.

O ministro afirmou ainda que os equipamentos da Abin foram comprados pela comissão do Exército por meio de requisições do Gabinete de Segurança Institucional. E que os órgãos pedem a ajuda à comissão por sua experiência na compra. O ministro disse que não se lembrava dos nomes dos produtos da lista que entregou a Lula. Indagado se eram os mesmos equipamentos que o Exército possui, Jobim afirmou:

- Não sei o que o Exército tem. Só examinei os equipamentos da Abin.

Jobim fez questão de dizer que o foco das investigações é a Abin e não o Exército. O ministro tenta evitar um atrito maior com o general Peri, porque, nos últimos dias acabou envolvendo o Exército na polêmica.

- Não estamos discutindo o Exército, estamos discutindo a Abin. O foco é a Abin.

Os jornalistas insistiram em perguntar se os equipamentos que o Exército possui são capazes de fazer escuta telefônica.

- São coisas completamente distintas - disse Jobim.

O ministro classificou como desnecessária sua ida, prevista para a próxima quarta-feira, na CPI do Grampo, na Câmara. Segundo ele, sua participação nesse episódio limitou-se a entrega da lista de equipamentos adquiridos pela Abin ao presidente.

- Mas eu vou. Se o Congresso me convocar, eu vou sempre, não tenho a menor dificuldade. E qual é a minha função? Dizer o que foi adquirido pela Comissão do Exército a pedido, e que serviu à Abin. São esses instrumentos e pronto.

Mesmo após as declarações do ministro, integrantes da cúpula da Abin reafirmaram que a instituição não dispõe de equipamentos para fazer escutas telefônicas. O órgão confirmou a compra dos equipamentos Oscor 5000, Orion Non Linear Junctions Evaluator, X 600 Through Wall Listening System e Stealth LPX Global Intelligence Surveillance System CDMA & GSM Passive/Active Interceptors Internet & Email Interceptors.

Segundo um especialista, o Stealth LPX seria similar a um equipamento que permite escutas de celulares. O equipamento é pouco conhecido no Brasil. A Abin sustenta, no entanto, que o Stealth só serve para escutas ambientais.

COLABOROU: Jailton de Carvalho