Título: Senador: PF suspeita de agente da Abin
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/09/2008, O País, p. 12

BRASÍLIA. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse ontem ter ouvido do delegado Wiliam Murad, responsável pelo inquérito sobre o grampo no telefone do presidente do Supremo, Gilmar Mendes, que uma das hipóteses mais prováveis é que agentes da Abin, desviados para trabalhar na Operação Satiaghara da PF, tenham feito o grampo.

Segundo Demóstenes, embora a PF não descarte a hipótese de o grampo ilegal ter partido de empresas de telefonia ou de outra pessoa, as maiores suspeitas hoje recaem mesmo sobre agentes da Abin. Já teria sido constada, nas palavras do senador, uma relação promíscua entre agentes da Abin e da PF.

- Pelas circunstâncias do telefonema, é mais provável que o ministro Gilmar Mendes tenha sido monitorado indevidamente por seu celular, porque é mais fácil fazer escuta de telefone celular que de fixo. Essa é a minha tese e também a do delegado - disse Demóstenes, que prestou depoimento para Murad por quase duas horas.

Demóstenes e Murad reconheceram que existe uma paranóia em relação grampo.

- Há uma sensação paranóica de que as pessoas estão sendo o tempo todo grampeadas. Até delegado admitiu que tem essa sensação. Mas não desconfiei que minha conversa com o ministro Gilmar estava sendo gravada - disse o senador.

Técnicos da PF fizeram uma perícia nos telefones usados por Demóstenes, e depois foram à central telefônica do Senado fazer o mesmo. A Polícia Legislativa ainda não concluiu sua investigação, mas, segundo assessores do senador Garibaldi Alves, está praticamente descartada a possibilidade de o grampo ter sido feito na instituição.

Demóstenes deverá apresentar um projeto de lei propondo a criação da Ouvidoria da Abin, que fiscalizaria todas as atividades de inteligência desenvolvidas pelo Executivo. Ela seria composta por sete técnicos: dois indicados pela Câmara, dois pelo Senado, um pelo Executivo, um pelo Judiciário e um pelo Ministério Público.

A edição de ontem da revista inglesa "The Economist" abordou o caso do grampo. "Vista de qualquer ângulo, a revelação de que a Abin, a agência de inteligência brasileira, gravou conversa entre o presidente do Supremo e um senador é indecorosa. Os cenários possíveis - alguém pediu à agência para grampear o mais importante juiz do país, ou o senador, ou ainda um agente agiu por conta própria - seriam ruins o suficiente", diz o texto.