Título: Tom Jobim se livra da Infraero
Autor:
Fonte: O Globo, 05/09/2008, Rio, p. 14

Lula resolve passar administração do aeroporto do Rio para iniciativa privada

Adriana Vasconcelos, Dimmi Amora e Érica Ribeiro

Numa reunião no Palácio do Planalto, na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo em relação ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Ele decidiu passar a administração do Tom Jobim, atualmente feita pela Infraero, para uma empresa privada. O Aeroporto de Viracopos, em Campinas, terá o mesmo destino. O governador do Rio, Sérgio Cabral, um dos maiores defensores da privatização e que já chamou o aeroporto do Rio de "rodoviária de quinta", além de afirmar que a Infraero tinha que "largar o osso", foi quem divulgou a notícia, de Londres, onde cumpre agenda de encontros econômicos.

"O presidente me informou que se reuniu nesta semana com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e que nas próximas semanas o modelo da concessão será finalizado. Para nós, do Rio, é uma notícia extraordinária, já que estamos em campanha para sediar as Olimpíadas de 2016. Com essa decisão sobre Galeão e Viracopos, o aeroporto do Rio terá um novo destino para o bem do Rio e do Brasil, porque resolvemos o maior entrave para a campanha pelos Jogos de 2016", afirmou Cabral através de nota de sua assessoria.

O Palácio do Planalto e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmaram ontem a decisão. Embora os estudos sobre o assunto ainda estejam no início, o ministro antecipou que o governo exigirá dos futuros concessionários a realização de obras de recuperação dos dois aeroportos. Reportagem do GLOBO, publicada na última terça-feira, mostrou que, no Orçamento para 2009, a União destinou três vezes mais verbas para a reforma do aeroporto de Florianópolis do que para o Tom Jobim.

De acordo com o ministro, os funcionários que atuam no Galeão e no Tom Jobim devem ser absorvidos na própria estrutura da Infraero:

- Temos de fazer dois estudos: um sobre o tipo de modelo e outro para definir o destino dos funcionários da Infraero que trabalham nesses aeroportos, que não serão abandonados.

Há cerca de um mês, a Agência Nacional de Aviação Civil e o BNDES iniciaram um estudo para definir um modelo de concessão para aeroportos de todo o país, que agora poderá ter um direcionamento específico.

Idéia agrada especialistas

Para analistas e especialistas do setor aéreo, a iniciativa do presidente é vista com bons olhos. O professor de Transporte Aéreo da UFRJ Respício do Espírito Santo acha que a privatização tem tudo para dar certo, uma vez que a iniciativa privada tem mais agilidade para captar recursos e desenvolver projetos. Mas ressalta que o sucesso dependerá de como o edital de concessão será elaborado.

- Vai ser necessário prever as obrigações do consórcio vencedor para que detalhes importantes na administração de um aeroporto não deixem de ser vistos, como a satisfação de passageiros, a sinergia entre todos os envolvidos na operação das unidades. O tempo de concessão também deve ser amplo o suficiente para que as empresas façam mudanças e ampliações com prazo e também com qualidade. O Tom Jobim precisa de obras urgentes e de outras que são importantes para o seu tamanho. Lá não existe um bom hotel ou salas de reuniões - diz.

Ele lembra que exemplos internacionais, sobretudo nos EUA, mostram que privatizar aeroportos dá resultado.

- Os principais aeroportos americanos têm uma administração central pública e uma administração privada setorizada, onde as empresas ficam responsáveis por diferentes áreas. No Brasil, o caminho poderia ser uma parceria do governo com empresas privadas.

Paulo Bittencourt Sampaio, diretor da Multiplan Serviços Aeronáuticos, também defende a privatização para a melhoria dos aeroportos.

- Hoje, o pagamento de tarifas aeroportuárias não adianta nada. O Galeão continua sujo e inacabado. O governo certamente está querendo correr contra o tempo para evitar o vexame de perder a Copa do Mundo e ficar de fora da disputa pelas Olimpíadas. Seria um ônus político muito grande - afirma Sampaio.

Sergio Lazzarini, professor de Estratégia do Ibmec São Paulo, também acha que o governo decidiu pela privatização preocupado com a Copa em 2014. Ele defende que a iniciativa se estenda a todos os aeroportos do país.

- A máquina aeroportuária estatal tem se mostrado ineficiente. Seria importante atrair investimentos privados para todos os aeroportos. Um modelo de privatização semelhante ao da telefonia, com áreas de concessão, que contemplem outros estados e não apenas os mais atraentes para o setor, como Rio e São Paulo.

Para ele, a administração dos aeroportos pode ser feita por grupos internacionais que têm conhecimento de ponta em gestão, em parceria com técnicos e empresas brasileiras:

- A experiência internacional mostra que a privatização atrai investimentos e elimina a lentidão e as irregularidades.