Título: Dependência externa
Autor: Barbeito, Washington
Fonte: O Globo, 12/09/2008, Opinião, p. 7

TEMA EM DEBATE: Indústria naval

No momento em que tanto se fala na riqueza do petróleo no mar, bem que se poderia sugerir ao presidente Lula criar um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a navegação.

Há algumas décadas, o Brasil tinha empresas de navegação que chegaram a transportar perto de 30% das exportações e importações. Hoje, o panorama é desolador. O Brasil não dispõe sequer de um navio porta-contêineres operando nos portos internacionais; os remanescentes estão na cabotagem - na costa nacional e no máximo na área do Mercosul.

O presidente Lula deu grande impulso à construção naval, através de encomendas de plataformas e também estimulou setores especiais da navegação: petroleiros, barcos de apoio, navios-sonda. Mas o comércio internacional se faz, modernamente - e cada vez mais -, por contêineres.

O que se sugere é apenas o que adotam as grandes nações, como Estados Unidos, França e Alemanha - países que dão estímulos formais à navegação de suas cores; ou ainda como fazem o Japão e os emergentes China e Coréia do Sul -, todos dando subsídios claros às frotas nacionais.

Qualquer forma de permitir a volta da navegação é válida, mas nossa sugestão é a de que se crie uma empresa privada brasileira, com 12 navios. Um porta-contêineres capaz de levar 7.000 unidades custa US$80 milhões e, portanto, o investimento seria de US$1 bilhão - sem necessidade de aporte do Tesouro, bastando se usar o Fundo de Marinha Mercante. A empresa seria, de início, única, pois já terá concorrência: com o universo exterior. A forma de se financiar seria através de leasing - em caso de insucesso do grupo controlador, os navios seriam transferidos para nova empresa, de imediato, como ocorre na aviação. Esse US$1 bilhão irá reingressar no Brasil em menos de três anos. Já a empresa operadora irá precisar de um a dois anos de carência nos pagamentos, até se impor e iniciar um processo natural de evolução.

A volta da navegação dará um alívio, no balanço de pagamentos, superior a US$12 bilhões (pode atingir US$20 bilhões sem demora, diante do crescimento do comércio exterior). Também importante para o Brasil é fazer parte do grupo que toma decisões. No momento, 100% do comércio externo brasileiro estão em mãos - navios - estrangeiras.

A situação é tão grave que, hoje, até as estatísticas sobre os fretes de e para o Brasil ficam no exterior. Eventualmente, por gentileza de um armador estrangeiro, pode-se ter acesso a esses dados relevantes.

Devemos copiar o que é bom. Se tantos países ricos e emergentes fazem questão de ter marinha mercante de carga geral - formada por navios porta-contêineres - temos de imitá-los. E, quanto antes, melhor.

WASHINGTON BARBEITO é economista e empresário.