Título: ONU: juro alto freia desenvolvimento
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 05/09/2008, Economia, p. 26

BRASÍLIA. Em seu relatório anual sobre comércio e desenvolvimento, a Unctad (agência da ONU para o tema), fez críticas à elevação dos juros, como a que ocorre no Brasil atualmente, por considerar que tal medida é um risco ao desenvolvimento econômico. Apesar disso, o relatório de 2008 aponta que os países em desenvolvimento devem continuar crescendo em velocidade muito maior que a dos países ricos, apesar da turbulência financeira internacional e da alta da inflação.

Segundo o relatório, enquanto as nações em desenvolvimento vão crescer 6,4% em 2008, os países ricos devem apresentar expansão de apenas 1,6%, jogando a média do crescimento mundial para 2,9%. Em 2007, segundo dados preliminares da Unctad, o mundo cresceu 3,8%, com os países desenvolvidos avançando 2,5% e aqueles em desenvolvimento, 7,3%. A Unctad estima que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) brasileiro deva fechar 2008 com expansão de 4,8%.

Para Unctad, América Latina cresce pouco devido a juros

Assim, o Brasil terá expansão inferior à da América do Sul que, segundo o organismo, crescerá 5,3%. Porém, pela primeira vez na década, o Brasil ficará acima da média da América Latina, que deve crescer apenas 4,6%.

Apenas duas regiões devem apresentar aceleração na taxa de crescimento em 2008: a África, que passará de uma taxa de 5,8% em 2007 para 6%; e o Oriente Médio, cuja taxa deverá subir de 5,1% para 5,7%. O relatório aponta que, enquanto os países asiáticos conseguiram crescer graças aos juros baixos, a América Latina vive momentos de pouco crescimento relativo devido aos juros altos.

- Em vez de adotar uma política monetária mais restritiva para atrair capital externo, os países devem optar por políticas de reinvestimento dos lucros das empresas e de direcionamento do crédito bancário interno para o desenvolvimento do setor produtivo. Para a Unctad, o investimento gera poupança, e não o contrário - afirmou Renato Baumann, diretor da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).

A Unctad alerta que a falta de controle financeiro mundial, com forte volatilidade de capitais, é um risco extra ao crescimento global. Para Baumann, seria preciso criar uma "OMC (Organização Mundial do Comércio) financeira".