Título: Exército: aparelhos podem fazer escuta
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/09/2008, O País, p. 14

BRASÍLIA. O laudo do Exército sobre equipamentos adquiridos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aprofundou ainda mais a divergência entre os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge Félix. O documento diz que os equipamentos são destinados a varreduras, mas, se adaptados, podem ser usados também para escutas telefônicas em determinadas condições. Para integrantes da cúpula da Abin, o laudo induz a uma conclusão contra a instituição.

Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira, Jobim disse que a Abin dispõe de equipamentos capazes de fazer escutas telefônicas. As declarações de Jobim foram decisivas no afastamento de toda a cúpula da instituição, entre eles o diretor-geral Paulo Lacerda. O ministro entregou a Lula uma lista de equipamentos que a Comissão do Exército, em Washington comprou para a Abin, em 2005. Na lista estão Oscor 5000 Omni Spectral Correlator, Orion Non Linear Junction Evaluator, o X600 Through Wall Listening System e o Stealth LPX Global Intelligence Surveillance System.

O laudo indica que o Oscor 5000 e o Stealth LPX, se adaptados, poderiam servir para escutas. A Abin sustenta que o Oscor é um instrumento de varredura e que o Stealth é destinado a escutas ambientais e não telefônicas. A Abin sustenta, ainda, que o potencial de escutas telefônicas dos equipamentos seria extremamente precário, mesmo se sofressem adaptações. Os operadores do sistema teriam que se aproximar excessivamente dos alvos e se exporiam a alto risco, com poucas chances de êxito.

Jorge Félix não quis comentar o laudo do Exército, que Jobim entregou no Palácio do Planalto. Segundo um de seus assessores, Félix não vai se manifestar para não criar embaraços às investigações da Polícia Federal e da CPI do Grampo. Jobim também resolveu não fazer mais comentários sobre os equipamentos. Ontem, durante cerimônia de transmissão dos cargos no porta-aviões São Paulo, no Arsenal de Marinha do Rio, ele disse que o assunto está "ultrapassado".

- Temos que aguardar as investigações que serão feitas pelo processo aberto pela Polícia Federal. O assunto está encerrado - comentou Jobim, negando que exista um mal-estar com o general Félix.

A PF está preparando um laudo sobre os equipamentos e investiga o envolvimento da Abin com o suposto grampo nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, entre outras autoridades. Os investigadores trabalham com várias hipóteses. Uma delas é que conversas de Mendes teriam sido gravadas por um ex-funcionário da Abin que, depois de deixar o emprego, prestou serviços à instituição.