Título: Baixaria e truculência no PMDB
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 25/05/2009, Política, p. 6

Ex-governador xinga Filippelli depois que ele ressaltou o apoio da deputada Jaqueline Roriz ao atual governo. Manifestantes uniformizados gritam palavrões e danificam carro do parlamentar peemedebista. Durante reunião, Roriz (D) avisou a antigos aliados que vai ¿atropelar¿ quem estiver na sua frente na próxima campanha eleitoral Um seminário do PMDB-DF terminou ontem em baixaria. Um grupo de manifestantes com camisetas de apoio ao ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) xingou o presidente regional do PMDB, Tadeu Filippelli, de traíra e de palavras de baixo calão. A confusão no auditório da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI) começou depois que o próprio Roriz perdeu a calma e atacou o parlamentar. Usou termos como ¿mentiroso¿ e ¿vagabundo¿, irritado com uma referência feita pelo peemedebista ao apoio da deputada distrital Jaqueline Roriz (PSDB) ao Governo do Distrito Federal.

O seminário foi marcado para o partido debater temas e conteúdos programáticos. A cúpula do PMDB local estava lá. O debate estava tranquilo até a chegada de Roriz, por volta das 10h30. Ele entrou no auditório acompanhado de uma claque. Manifestantes usavam uma camiseta branca com os dizeres ¿Roriz de novo com o PMDB e o povo¿. Em seu discurso, o ex-governador apontou para os antigos aliados e lembrou que todos integraram seu governo, embora agora não estejam mais a seu lado. Disse que não está em campanha ainda e tem preferido se manter longe dos holofotes, mas na hora certa vai ¿atropelar¿ todo mundo que estiver na frente dele.

Filippelli adotou um discurso de conciliação, mas marcou posição. Afirmou considerar que ¿ninguém sozinho é maior do que o PMDB¿ e ¿ninguém é candidato de si mesmo¿. Roriz estava a seu lado, com uma fisionomia fechada. O presidente do PMDB-DF pediu para que todos evitassem manifestações de hostilidade a posições divergentes. ¿Política se faz com união. Não se faz com confronto e conflitos¿, afirmou. O clima esquentou quando ele disse que Jaqueline apoia o governo Arruda desde o primeiro dia e, inclusive, é responsável por indicações políticas. Nesse momento, Filippelli recebeu uma vaia.

Assim que o deputado terminou de falar, Roriz puxou o microfone, que já estava sem som. Ele não gostou de ter a palavra cortada e começou a gritar. Esmurrou o ar e gesticulou. Esse comportamento atiçou a claque. Antigos cabos eleitorais de Roriz, como Valdir França, o Valdirzão, conhecido por sempre provocar adversários do ex-governador, estavam presentes. Os manifestantes então começaram a gritar: ¿traíra, filho da p.¿. Filippelli deixou o auditório acompanhado de 10 seguranças, contratados especialmente para a sua proteção no seminário. Ele adotou esse procedimento porque temia ser hostilizado novamente por partidários de Roriz. Na inauguração do escritório político do ex-governador no Setor de Indústrias em abril, já houve um constrangimento. Filippelli, os deputados distritais Eurides Brito e Rôney Nemer, além do senador Gim Argello (PTB-DF), foram vaiados.

Constrangimentos Na saída ontem, Filippelli teve dificuldades para entrar no carro. Alguns manifestantes ¿ que não estavam com o uniforme da claque ¿ chutaram a caminhonete. O veículo também ficou arranhado. ¿Avalio o episódio como lamentável. Já é a segunda vez que a claque causa constrangimentos em eventos que deveriam ter um desfecho de grande comemoração¿, lamentou Filippelli. ¿O grau de agressividade está evoluindo e se continuar nessa escalada, temo pela integridade física das pessoas¿, acrescentou. Ele, no entanto, disse que ainda não pretende tomar nenhuma providência. Eurides Brito também lamentou o ocorrido. ¿O objetivo do seminário foi totalmente desvirtuado. Não era hora de se falar em candidaturas e sim de discutir temas como habitação e educação¿, reclamou. Na mesa de debates, havia vários companheiros históricos de Roriz, como Odilon Aires, Ivelise Longhi, Rogério Rosso e Rôney Nemer, além de Eurides e Filippelli. Vários peemedebistas disseram ao Correio que ficaram impressionados com o destempero de Roriz.

Não é a primeira vez que o ex-governador perde a linha. Quando era governador, ele usou em discursos termos como ¿crioulo petista¿ e também anunciou, certa vez, que ouviu de desembargadores a garantia de que seria absolvido em processos. Nos dois casos, ele se retratou depois. Dessa vez, Roriz está incomodado com os colegas de partido porque não tem mais confiança de que conseguirá o apoio de seu antigo grupo político para disputar a eleição em 2010 a um quinto mandato de governador. Pesquisas indicam que ele tem patrimônio eleitoral, mas a maioria do PMDB apoia o governador Arruda, apontado como candidato à reeleição. Reportagem do Correio de ontem mostrou que Roriz busca uma intervenção nacional no PMDB-DF que lhe garanta o controle das decisões. Mas o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), já avisou que não aprova essa hipótese.