Título: Juízes reagem a crítica de presidente do STF
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 06/09/2008, O País, p. 15

BRASÍLIA. A declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, acusando juízes, procuradores e policiais federais de atuar como milícias provocou indignação no meio jurídico. Para o ministro, ao atuar em conjunto, o grupo estaria distorcendo o processo investigativo e legal no país. Três integrantes da CPI do Grampo confirmaram que ouviram a frase de Gilmar na quinta-feira, em reunião a portas fechadas, ao se referir a varas especializadas em lavagem de dinheiro.

Segundo sua assessoria, Gilmar não tinha a intenção de criticar profissionais, e sim o sistema que não funciona.

- Essa declaração é extremamente grave e preocupante. Percorro o país e jamais ouvi qualquer comentário nesse sentido - disse o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota de repúdio às declarações de Gilmar. "São inverídicas, ofensivas e desrespeitosas as afirmações de que possa existir proximidade excessiva entre juízes, delegados e membros do Ministério Público, que atuariam como milícias nas varas federais especializadas no julgamento de processos de crimes de lavagem de dinheiro", diz o texto, assinado pelo presidente da entidade, Fernando Mattos.

A Ajufe também manifesta receio com a resolução do Conselho Nacional de Justiça sobre escutas telefônicas, que deverá ser aprovada na terça-feira. O conselho pretende contabilizar o número de escutas determinadas pela Justiça em todo o país. A entidade diz temer que a regulamentação possa "interferir na independência funcional dos magistrados e no sigilo da investigação que autorize o monitoramento telefônico". A Ajufe também reclama por não ter sido convidada a participar do debate.

O presidente da OAB, Cezar Britto, elogiou a atitude do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de editar uma resolução sobre grampos.

- É claro que não se deve impedir o uso desse instrumento de investigação, até para que o crime não caminhe solto, mas também não podemos cometer o crime de deixar o uso desse mecanismo completamente livre e sem regras - opinou Britto.