Título: Lula pede respeito a empresários e diz que é preciso 'dar as mãos'
Autor: Gois, Chico de; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 06/09/2008, Economia, p. 28

IPOJUCA (PE), RECIFE e SÃO PAULO. O presidente Lula pediu respeito aos empresários e lembrou que, quando foi candidato à Presidência pela primeira vez, em 1989, parte do empresariado fugia dele "como o diabo foge da cruz". Lula, que fez as declarações em Ipojuca (PE), durante o início da construção do primeiro de 49 navios destinados à Transpetro, disse que, há alguns anos, os empresários ficavam tomando uísque e tentando arrancar dinheiro do Estado. Mas frisou que isso mudou.

- Quando fui candidato a presidente pela primeira vez, os empresários tinham medo de mim como o diabo tem medo da cruz. Uma parte das pessoas pobres deste país também tinha medo de mim - lembrou, observando que aqueles são tempos passados: - Hoje tenho certeza de que os empresários não têm mais medo do Lula. E é bom que tenham respeito, pelo respeito que tenho por eles. Os trabalhadores já não têm mais medo do Lula. Eles me enxergam como se fossem eles que estivessem governando este país.

O presidente atacou empresários que não se preocupavam com o destino do país.

- Acabou-se o tempo em que eles (os empresários) ficavam semanas e semanas entre um e outro copo de uísque, tentando tomar o dinheiro que o Estado arrecadava - criticou para, em seguida, fazer a ressalva: - Hoje os empresários tomaram consciência, e nós também, de que a única possibilidade de este país crescer é a gente dar as mãos.

Após "Geografia da fome" em Recife, Casa Fasano em SP

Em Recife, ao participar da Sexta Plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lula lembrou que o Brasil tem sofrido menos do que outros países com a alta mundial dos preços de alimentos.

- Em tudo quanto é lugar a inflação subiu muito. Todo mundo começou a ficar preocupado. A decisão que tomamos aqui foi de financiar, pelo BNDES, até 2010, 60 mil tratores e 300 mil implementos agrícolas para agricultura familiar - afirmou Lula durante a reunião, realizada pela primeira vez fora de Brasília.

O encontro foi em Recife para comemorar o centenário de nascimento de Josué de Castro, autor de "Geografia da fome". Lula reclamou daqueles que, em pleno século XXI, encaram a agricultura como um simples meio de subsistência:

- Planta uma macaxeirazinha para comer, um milhozinho. Não. Queremos que a pessoa plante, que dê escala. Que possa ter mais para vender, que possa ter dinheiro para comprar coisas.

Se na hora do almoço, em Recife, as declarações de Lula giraram em torno da fome, à noite o presidente participou de evento em São Paulo, na Casa Fasano, reduto de endinheirados e símbolo da alta gastronomia. O evento era em comemoração aos 60 anos do Grupo Pão de Açúcar. Ao lado do governador José Serra e dos ministros Nelson Jobim (Defesa) e Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula elogiou o presidente do grupo, Abílio Diniz. E destacou que o sucesso da empresa é um retrato do aumento do poder aquisitivo do brasileiro.