Título: Caos nos balcões da Receita está longe do fim
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 07/09/2008, Economia, p. 39
BRASÍLIA. O caos no atendimento da Receita Federal, admitido pela secretária do órgão, Lina Maria Vieira, um mês depois de tomar posse, não só se mantém como tende a se agravar, segundo servidores e líderes sindicais. Além de não ter anunciado até o momento qualquer alteração na relação do Fisco com o contribuinte, o problema da debandada de servidores da Receita para outros órgãos deve se intensificar. O motivo? As novas correções salariais estabelecidas pelo governo, que tornam a carreira previdenciária mais atraente que a fazendária. Os dois órgãos estão juntos na Super-Receita.
- Esse atendimento está pior que o de empresa de telefonia celular -, afirmou Maristela Batista, atendente comercial de 40 anos que vive em Gama, cidade-satélite de Brasília, referindo-se ao posto da Receita na capital da República.
Ela passou dois dias completos nas dependências do posto central de Brasília, para resolver uma pequena pendência em seu CPF. Acompanhada do pai, o potiguar Assis Paes, de 80 anos, teve mais sorte: só conseguiu resolver o problema dele, após uma hora de espera, graças ao privilégio no atendimento a idosos. Ela lembrou que teve de se deslocar 40 quilômetros, pois existem apenas dois postos da Receita no Distrito Federal.
Paulo Antenor de Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Analistas Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita), disse que situações como essa são constantes. Segundo ele, tudo se mantém da mesma forma desde que Lina - que foi procurada pelo GLOBO, mas não quis dar entrevista - reconheceu que o atendimento era caótico:
- Não vimos qualquer mudança prática. Por enquanto, está tudo nas idéias e, mesmo assim, as propostas são insuficientes.
Ele afirmou que não existe treinamento adequado, mesmo dos servidores que tiveram de passar a atender questões previdenciárias. Oliveira conta que nenhuma das propostas levantadas até o momento prevê a desburocratização do órgão:
- Às vezes, um problema pequeno, um erro de guia de cem reais, passa por três estados antes de ser resolvido.
Essa situação é a vivida pelo servidor público Jânio César Lopes dos Santos, de 31 anos. Também tentando resolver um antigo débito em seu CPF, ele terá de voltar mais uma vez à Receita:
- Paguei a minha multa, vim até aqui com o documento do Banco do Brasil em mãos, mas eles me disseram que não podem fazer nada, que tenho de aguardar o envio do comprovante do banco pelo sistema - disse.