Título: Mangabeira adia Plano de Defesa e diz esperar críticas
Autor: Batista Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 08/09/2008, O País, p. 8

Ministro defende criação de órgão fundiário para a Amazônia

Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA. O governo adiou a divulgação do Plano Nacional de Defesa que vinha sendo elaborado pelos ministros da Defesa, Nelson Jobim, e de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. O plano foi apresentado na última semana ao presidente Lula e seria divulgado ontem após o desfile de 7 de setembro. Mangabeira explicou ontem que Lula pediu para ampliar o debate sobre o plano antes de divulgá-lo. O ministro defendeu a criação de um instituto fundiário específico para a Região Norte.

A idéia de Mangabeira é criar uma espécie de Incra da Amazônia. O órgão cuidaria da regularização de terras na região, um dos principais temas do plano desenvolvido pelo governo para a Amazônia. Quando o governo entregou a Mangabeira a coordenação desse plano, a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reagiu e acabou deixando o governo.

Mangabeira disse que deverá debater esta semana com governadores da Região Norte a criação do Instituto Fundiário:

- A Amazônia Legal é 59% do nosso país e o problema prioritário é o caos fundiário: menos de 4% das terras nas mãos de particulares têm a sua situação jurídica esclarecida. Enquanto isso não for resolvido, não poderemos transformar a Amazônia na grande vanguarda brasileira, na fronteira da imaginação brasileira que ela pode ser.

Mangabeira admitiu que o Plano Nacional de Defesa vai criar polêmica. Ele afirmou que o direcionamento de mais dinheiro público para os militares deverá ser alvo de críticas. Mas insistiu que o projeto será um marco histórico:

- Prevejo que o plano, quando for lançado, será atacado por alguns formadores de opinião, que vão acusá-lo de ser um desperdício de dinheiro e um instrumento de corrida armamentista.

Plano deixará mais clara a função das Forças Armadas

O ministro afirmou que o debate será importante para dar legitimidade ao plano e que o projeto será importante para modernizar os militares:

- Estamos determinados a qualificar as Forças Armadas em todos sentidos, tecnológico e operacional. Construir uma cultura militar pautada pela audácia e pela flexibilidade. Não seremos os mais poderosos: sejamos, então, os mais audaciosos e criativos.

Mangabeira informou que, além de propor o reaparelhamento das Forças Armadas - com incentivos à industria bélica nacional -, o plano vai redirecionar as atividades da Defesa. Segundo ele, será definida mais claramente a função das Forças Armadas, para que não se confunda com atribuições da polícia. Deverá ser proposta uma readequação do serviço militar, ainda obrigatório.

- Num país tão desigual como o nosso, o serviço militar é um nivelador republicano, um espaço no qual a nação pode se encontrar acima das classes. Todos queremos que as Forças Armadas continuem a ser a própria nação em armas, e não uma parte da nação paga pelas outras partes para defendê-la.

O ministro disse que Lula adiou a divulgação do plano para evitar também que coincidisse com a visita da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que acompanhou o desfile. Além do ministro da Defesa, Nelson Jobim, Mangabeira Unger era o único civil no desfile usando faixa militar. Com um detalhe: a faixa estava sobre o ombro esquerdo, contrariando a etiqueta militar.

O ministro foi perseguido pela equipe do humorístico "Custe o que custar", da Rede Band. Ele não respondeu à provocação de que poderia ser o professor de dicção do rabino Henry Sobel, famoso pelo forte sotaque de estrangeiro, como o ministro. Um dos apresentadores questionou se o Brasil poderia obter a soberania no futebol com Dunga como técnico:

- Esse é um dos muitos assuntos que eu não acompanho com a devida atenção - respondeu Mangabeira, rindo.