Título: Na Argentina, o drama da escassez desde 2004
Autor: Olivera, Francisco
Fonte: O Globo, 07/09/2008, Economia, p. 43

BUENOS AIRES. A Argentina vive uma crise energética desde 2004, o que levou o governo a reduzir quase a zero as exportações de gás para o Chile e a cortar o fornecimento de gás natural ao setor industrial durante o inverno. No ano passado, fez cortes de energia elétrica por 69 dias consecutivos a cerca de 5 mil empresas. Este ano, o racionamento atingiu menos empresas e durou menos tempo.

Medidas tomadas pelo governo, como o plano de incentivos para exploração da plataforma marítima e a licitação de campos marginais (devolvidos pelas petrolíferas às províncias por serem pouco atrativas) para exploração por pequenas empresas, não resolveram a crise. Tampouco o programa Gas Plus, iniciado em 2007 e que permite que o gás adicional à oferta existente seja comercializado a preços mais altos, surtiu resultado.

Uma das conseqüências da falta de investimento é que a Argentina deve se tornar, segundo analistas, importador líquido de petróleo em 2010.

Quase 90% da matriz energética argentina dependem de petróleo e gás. No entanto, a produção de ambos cai quase interruptamente desde 1998, refletindo o divórcio entre preços locais e internacionais. Esse processo se acelera por um efeito duplo: os baixos valores afugentam os investimentos e multiplicam a demanda.

Segundo um estudo de Fernando Navajas, economista da Fundación de Investigaciones Económicas Latinoamericanas (FIEL), a Argentina terá a partir do próximo semestre um custo adicional de US$250 milhões pelo gás que importa da Bolívia e de US$350 milhões pela compra de combustíveis líquidos para centrais elétricas. Além disso, gastará este ano US$800 milhões com importação de diesel.