Título: Queda no Brasil será mais aguda, mas rápida
Autor: Novo, Aguinaldo; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 10/09/2008, Economia, p. 26

RICARDO AMORIM

O diretor-executivo para Mercados Emergentes do banco WestLB, Ricardo Amorim, radicado em Nova York, avalia que pode ser um bom sinal a Bolsa brasileira cair mesmo quando as estrangeiras sobem, pois a correção, que pode levar semanas aqui, tende a levar meses ou anos nos Estados Unidos.

Felipe Frisch

O que acontece com a Bolsa?

RICARDO AMORIM: A bolsa brasileira está devolvendo o que ela subiu mais do que as outras no primeiro semestre, quando foi a única que subiu entre as 30 maiores do mundo. Quando a crise se mostra mais profunda do que se esperava e as matérias-primas começam a cair, a bolsa brasileira, que é dependente delas, cai junto.

E nas demais Bolsas mundiais?

AMORIM: Acho que o processo (de queda) não acabou, a bolsa americana ainda está frágil. A Bolsa brasileira vai cair por algumas semanas e mais rápido, porque é movimento de alocação de portfólio, mas sobe no ano que vem. A americana vai caindo devagar, até que a economia dos EUA volte a crescer de forma sustentável, o que pode levar alguns anos para acontecer. A queda no Brasil vai ser aguda, mas vai ser rápida.

A recuperação ainda vem este ano?

AMORIM: Pode vir, mas ainda vai ser de níveis mais baixos do que os atuais. Ainda não chegamos no piso. Acho que a Bolsa fecha abaixo do nível de hoje no ano, não fecha positiva em 2008. Quanto mais rápido cair, mais rápido volta a subir. A variável chave é o movimento das commodities (matérias-primas), que eu acho que ainda vão cair bem e voltar a subir. Se olhar para a frente, os próximos meses serão ruins, os próximos anos serão bons.

A bolsa brasileira pode voltar a descolar positivamente das estrangeiras?

AMORIM: Tenho certeza de que vamos voltar a descolar positivamente dos EUA e da Europa, acho que na virada do ano. As bolsas caíram no mundo todo, a única que subiu hoje (ontem) foi a da Suíça, que subiu 0,17%. O investidor primeiro tirou o dinheiro da bolsa americana e, depois, das bolsas européias. E, do último mês para cá, resolveu tirar da bolsa brasileira.