Título: Collor, uma incógnita
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2009, Política, p. 05

Ex-presidente estará no papel de investigador na CPI e ao lado de antigos algozes que o levaram a perder o mandato. Oposição espera atuar em conjunto com o petebista

Em meio às negociações em torno da composição da CPI da Petrobras, um integrante já confirmado se tornou alvo de apostas. Governo e oposição não sabem ao certo qual será a postura do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) durante as investigações sobre supostas irregularidades na estatal. Os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apostam no discurso de que agora o alagoano faz parte da base governista e não deve usar a comissão para se vingar dos petistas que, em 1992, comandaram as mais diversas manifestações em favor do seu impeachment. Já os integrantes da oposição acreditam que vão se afinar bem com o ex-presidente durante as apurações. Apostam que o passado de Collor lhe garante bons argumentos para enfrentar a pressão do governo pelo freio nas investigações.

Além disso, a oposição espera se beneficiar com divergências declaradas entre Collor e o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). O petista foi um dos capitães da CPI que resultou no impeachment do alagoano e não escondeu a insatisfação quando Collor foi escolhido presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, em um verdadeiro atropelamento dos planos e das articulações de Mercadante, que esperava eleger Ideli Salvatti (SC). ¿Acho que essas feridas continuam abertas e podem se refletir na postura de Collor na CPI. Não quero tentar analisar como as pessoas deverão agir, mas ele é mesmo uma grande dúvida¿, comentou um tucano.

Diante de tantas incertezas, o líder do PTB na Casa, Gim Argello (DF), tem tido de repetir aos seus pares que mantém sob controle as indicações e as posturas da legenda. Na prática, tem reafirmado que não deu um tiro no pé ao atender ao pedido de Collor para indicá-lo à comissão. Argello foi um dos mais empenhados em enterrar a comissão durante o recolhimento das assinaturas pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Tentou convencer integrantes da base a retirarem os nomes do requerimento que pedia a criação da CPI e fez um verdadeiro corpo a corpo junto à cúpula do Planalto. Depois de fracassar na ofensiva, o líder petebista agora trabalha na tentativa de conscientizar os senadores sobre a importância da Petrobras e os riscos para o país de envolver a maior empresa da América Latina em denúncias.

Pressões e corrupção A relação entre o passado de Collor e a CPI que está a caminho não se restringe às mágoas pela atuação do PT durante as investigações de corrupção em seu governo. Durante o tempo em que esteve à frente da Presidência da República, o senador petebista interferiu diretamente na gestão da Petrobras. Em 1990, demitiu o então presidente da empresa, Luis Octávio da Motta Veiga, que havia se recusado a conceder um empréstimo milionário ao então dono da Vasp e amigo de Paulo Cesar Farias, Wagner Canhedo. Além disso, meses se sucederam com as mais variadas denúncias de que o grupo de Collor cobrava comissões e propinas das empresas que faziam negócios com a estatal.