Título: Verba secreta da PF pagava a agente aposentado
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 11/09/2008, O País, p. 14

Delegado confirma participação de araponga na Satiagraha e diz que ele ficou pouco tempo

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O agente aposentado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Francisco Ambrósio do Nascimento, apontado como um dos suspeitos de envolvimento no grampo ilegal no telefone do ministro do STF Gilmar Mendes, recebia salário de R$1,8 mil por mês para colaborar com a Operação Satiagraha. Segundo um dos advogados de Ambrósio, o salário era pago com a verba secreta que o delegado Protógenes Queiroz recebia da PF para conduzir a Satiagraha, investigação sobre supostos crimes financeiros do banqueiro Daniel Dantas.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal "O Popular", de Goiás, Protógenes confirmou a atuação de Ambrósio na Satiagraha. Segundo ele, o agente foi contratado na condição de "colaborador eventual". Ambrósio dava expediente, desde o início do ano, numa sala do 5º andar do Máscara Negra, sede da PF, e depois em outro prédio para onde o serviço de inteligência foi transferido. Segundo um colega de trabalho, cabia a Ambrósio analisar e-mails e resultados de escutas telefônicas obtidas ao longo da Satiagraha.

- Ele participou, sim, da operação, há um dispositivo legal que prevê a figura do colaborador eventual. Mas ficou pouco tempo na operação. É um analista e desempenhou o papel dele a pedido nosso. Todo o tempo cumpria expediente na sede da PF - disse Protógenes.

Para delegado, há uma tentativa de descrédito

O delegado continuou negando que o grampo nos telefones do presidente do Supremo tenha partido de integrantes da Satiagraha. Para ele, há uma tentativa de desacreditar o inquérito contra Dantas. Argumentou que investigações no exterior sobre o banqueiro sofreram sucessivos ataques, como estaria ocorrendo agora com a Satiagraha e disse que autoridades de outros países reagiram de forma diferente à movimentação dos advogados do banqueiro.

- Posso lhe afirmar que a reportagem informando que houve escuta ilegal e que as suspeitas recaem nos agentes que integraram a Satiagraha é mentirosa - disse o delegado.

Protógenes diz que os ataques a ele e à operação "beiram o absurdo". A descoberta da participação do agente abriu novo flanco para a defesa de Dantas. Para o advogado dele, Nélio Machado, se ficar comprovado o acesso de Ambrósio a documentos sigilosos, a operação pode ser anulada. O agente deve dar entrevista hoje para negar que tenha participado de escutas legais ou ilegais.

No olho do furacão desde que seu nome foi divulgado pela revista "IstoÉ" desta semana, Ambrósio está com medo de ser preso durante depoimento na CPI. Ele queria entrar com pedido de habeas corpus preventivo no STF para permanecer calado ao longo do interrogatório. Mas foi desaconselhado. Um dos advogados da Associação dos Servidores da Abin (Asbin) explicou que o agente certamente teria o pedido recusado.