Título: Abin cedeu 56 arapongas para delegado da PF
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 11/09/2008, O País, p. 14

CRISE DO GRAMPO: Investigação sobre escuta em telefone de Gilmar Mendes vira guerra entre órgãos do governo

Diretor afastado diz que PF usou "meios não oficiais" para produzir provas e acusa Protógenes de "desvio e descontrole"

Bernardo Mello Franco e Leila Suwwan

BRASÍLIA. O diretor de Contra-inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Maurício Pinto, afastado do cargo após a crise do grampo, revelou ontem que o órgão cedeu 56 servidores e gastou R$250 mil para ajudar o delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha da Polícia Federal. Em depoimento à CPI do Grampo na Câmara, Pinto disse que foi Protógenes quem contratou o araponga Francisco Ambrósio - o ex-agente do Serviço Nacional de Informações suspeito de ter abastecido a investigação com grampos ilegais.

Pinto acusou o delegado de usar meios "não oficiais" para produzir provas e irritou deputados ao isentar a Abin e seu diretor-geral afastado, Paulo Lacerda, de responsabilidade por eventuais irregularidades. Em tom de desabafo, ele disse que houve descontrole nas investigações e que a agência está sendo responsabilizada por desvios cometidos na PF.

- Esse problema é da PF. Tudo foi feito no prédio da PF. O delegado Protógenes não montou sua base dentro da Abin. Nós estamos, no meio dessa confusão, pagando um pato que não é nosso - disse Pinto, com a voz embargada. - Que existiu um descontrole interno dentro da PF, existiu. O delegado utilizou várias estruturas. Oficiais e, pelo que estamos tomando conhecimento, não oficiais.

Em seu depoimento à CPI, Protógenes tinha afirmado que a operação teve a participação de "poucos oficiais de inteligência", que não teriam atuado de forma institucional.

Ontem, momentos após afirmar que não via Ambrósio há dez anos, Pinto admitiu ter se encontrado com ele sexta-feira. O diretor, já afastado, disse ter marcado o encontro após saber que seria publicada uma reportagem que identificou Ambrósio como chefe de uma suposta central de grampos. Alegou que "não poderia ficar sem saber o que estava acontecendo".

- Ele me falou que participava dos trabalhos e que foi contratado pelo Protógenes. Eu procurei ele, foi uma ação minha para tentar esclarecer, saber se ele tinha coordenado alguma coisa, porque essas coisas às vezes fogem do controle - afirmou.

Suspeitas sobre outros 2 agentes

Na parte reservada do depoimento, Pinto levantou suspeitas sobre o envolvimento de outros dois agentes na operação comandada por Protógenes. Segundo ele, Jairo Martins e Idalberto de Araújo podem ter participado na escuta ilegal nos telefones do presidente do STF, Gilmar Mendes. O diretor afirmou que a cúpula da Abin afastada está fazendo uma investigação paralela. Martins já foi acusado de participar da gravação de Maurício Marinho, ex-funcionário dos Correios que causou o escândalo do mensalão.

O diretor afastado da Abin não soube dizer se Ambrósio foi contratado com verba secreta da Satiagraha. Mas, na reunião reservada, ele descreveu as investigações em Brasília. Segundo ele, quatro espiões da Abin dividiram uma sala com Ambrósio, Protógenes e outros cinco policiais federais, no quinto andar do edifício da PF. Os outros 52 teriam prestado serviços no Rio e em São Paulo, durante quatro meses. Pinto afirmou que os servidores da Abin cumpriam ordens de Protógenes, mas não sabiam o alvo da operação, que levou à a prisão de Daniel Dantas.

A CPI aprovou a convocação de Ambrósio, Protógenes e Dantas, além do diretor de Inteligência da PF, Daniel Lorenz. Serão convidados a depor o ministro da Justiça, Tarso Genro, e Gilmar Mendes.