Título: Analistas já estimam expansão de 5,5% este ano
Autor: Bôas, Bruno Villas; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 11/09/2008, Economia, p. 31

PIBÃO NA CRISE: Resultado do segundo trimestre levou bancos e consultorias a refazerem suas projeções para 2008

Ministério da Fazenda também eleva previsão e Mantega fala em "um excelente Natal para a família brasileira"

Bruno Villas Bôas, Fabiana Ribeiro, Gustavo Paul e Patrícia Duarte

RIO e BRASÍLIA. O bom desempenho da economia brasileira fez com que bancos e consultorias começassem a rever suas projeções para 2008. e já esperam crescimento do país de até 5,5% para 2008. O governo, por sua vez, também ficou otimista com os dados do PIB e faz novas estimativas para o fim do ano.

A Tendências, por exemplo, vai alterar nos próximos dias sua expectativa do PIB deste ano - atualmente em 4,9% - para um patamar um pouco acima de 5%. Segundo Marcela Prada, economista da consultoria, a nova projeção vai incorporar apenas o crescimento da economia acima do projetado pela Tendências no segundo trimestre, sem alterar de forma significativa a expectativa já traçada para o terceiro e quarto trimestres (alta de 5% e 4%, respectivamente):

- O aumento de 6,1% do PIB no segundo trimestre, frente a igual período, ficou acima da nossa projeção, de 5,6%. O resultado indica um viés de alta na nossa projeção para o ano.

Mantega admite que volume de crédito está alto

A consultoria também pretende rever o ritmo de crescimento da economia brasileira para o próximo ano - hoje projetado em 4,1%. Segundo Marcela, a nova projeção vai considerar o atual ritmo de aumento dos juros básicos da economia e a desaceleração do crescimento mundial, o que tende a reduzir a expectativa traçada para 2009.

A notícia sobre o PIB já alterou as estimativas de crescimento da economia do Ministério da Fazenda. Em entrevista coletiva horas após a divulgação dos novos números, o ministro Guido Mantega disse que agora espera taxa de 5,5% ao ano, acima dos previstos 5%. Esbanjando otimismo, Mantega afirmou que os brasileiros terão um dos melhores natais da história.

- Teremos um excelente Natal para a família brasileira - disse o ministro da Fazenda, para quem esse crescimento vem acompanhado da desaceleração da inflação.

Apesar da comemoração, Mantega admitiu que o volume de crédito no país, de 32% do PIB, está elevado. A massa salarial, afirmou, está crescendo 8,1%, o que mostra que há capacidade de consumo.

O Unibanco também reviu seus números para o PIB de 2008, de 4,8% para 5,3%. Segundo a economista do banco Giovanna Rocca, as projeções médias para o terceiro e quarto trimestres permanecem as mesmas: 4,5%, na média.

- Enquanto o bom desempenho do mercado de trabalho deve continuar colaborando com o consumo das famílias, os primeiros sinais de desaceleração do crédito deve contrabalançar a demanda por bens de consumo duráveis no terceiro trimestre. A desaceleração da economia mundial também deve impactar os investimentos das empresas, assim como a alta dos juros.

O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, afirma que, embora o desempenho da economia no segundo trimestre tenha surpreendido, a expectativa é de um resultado adverso no terceiro trimestre deste ano, seguido de uma queda mais acentuada no último trimestre do ano. Desta forma, a corretora decidiu manter sua projeção de crescimento do PIB para este ano em 5%.

- O consumo das famílias e os investimentos vão continuar afetando positivamente o PIB, mas já alcançaram seu pico e tendem a desacelerar ao longo do ano. Essa desaceleração será resultado do efeito do aumento dos juros, do menor crescimento das economias ao redor do mundo e da inflação mais alta nos próximos dois trimestres - avalia.

Para Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o desempenho do PIB mostra que o país cresce num ritmo sustentado. Ainda assim, o especialista mantém suas projeções de 5% para o PIB deste ano. Mas não descarta uma pequena desaceleração nos próximos trimestres.

Meirelles: país vive "ciclo sustentado de crescimento"

O ministro do Planejamento Paulo Bernardo chamou o resultado divulgado ontem pelo IBGE de "Pibão". Disse que o crescimento da economia em 2008 terá um efeito positivo no ritmo de 2009:

- Crescemos 5,4% em 2007. Este ano podemos chegar a 5,5% e, em 2009, a 4,5% - disse.

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, chamou de robusto o PIB do segundo trimestre. Meirelles, que ontem comandava mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ressaltou que o crescimento maior vem "da opção pela estabilidade de preços", numa clara resposta às pressões que sofre dentro do próprio governo para não elevar os juros básicos da economia.

"O resultado do PIB do segundo trimestre de 2008 renova o diagnóstico de que o Brasil vive hoje um ciclo sustentado de crescimento, alicerçado na opção pela estabilidade de preços", diz um trecho de um comentário do presidente do BC distribuído pela assessoria do banco.