Título: Explosão em gasoduto
Autor:
Fonte: O Globo, 11/09/2008, O Mundo, p. 35

UM PAÍS POLARIZADO

Bolívia atribui redução de 13% no envio de gás ao Brasil a ato terrorista em meio a protestos

BRASÍLIA e LA PAZ

Acrise boliviana levou o país a reduzir ontem em 13% o envio de gás natural ao Brasil. A empresa estatal YPFB atribuiu a redução a um ato terrorista num gasoduto a 50 quilômetros da cidade de Yacuiba, fronteira com a Argentina, que se somou aos violentos protestos na véspera em Santa Cruz e em outros departamentos opositores. O ataque e a ocupação de outras usinas ontem levaram o governo a reforçar a presença militar nas instalações petrolíferas.

A estimativa do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é de que a perda diária no primeiro momento será de cerca de 4 milhões de metros cúbicos, cerca de 13% do total diário. Segundo ele, pelo menos por enquanto não ocorrerão problemas de abastecimento no Brasil, graças às reservas.

- Com a explosão, não temos condições de quantificar qual vai ser a perda do envio de gás - disse Lobão que, mais tarde, em reunião com empresários, trocou a palavra explosão por "acidente".

Para evitar problemas maiores, o governo montou um plano de contingência, que inclui a alteração do volume de gás usado nas termelétricas da Petrobras e unidades da Eletrobrás.

Abastecimento sem sofrer impacto

Desde que saíram as primeiras notícias sobre o corte parcial, o governo insistia que o abastecimento continuava normal. Somente mais tarde a notícia foi confirmada. À noite, o Itamaraty informou que estão sendo tomadas providências para garantir o abastecimento de gás. "O governo brasileiro acompanha com grande preocupação a evolução dos acontecimentos na Bolívia e lamenta o recrudescimento da violência e dos atos de desacato".

O assessor para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, reuniu-se, no final da tarde, com o ministro das Finanças da Bolívia, Luis Alberto Arce, em Brasília. Perguntado se houve uma explosão, Marco Aurélio respondeu:

- Eles mexeram em uma válvula e pegou fogo.

Em La Paz, o presidente da YPFB, Santos Ramírez, atribuiu o ataque a "grupos terroristas organizados por opositores". De acordo com fontes do setor de energia, uma explosão ocorreu num tubo de 32 polegadas entre os campos de San Alberto e San Antonio, de onde sai a maioria do gás para a cidade de São Paulo. Aparentemente a explosão ocorreu quando manifestantes tentavam fechar uma válvula. O incêndio provocou interrupção no envio de gás ao Brasil e a reparação do duto levará 20 dias. As perdas totais podem superar US$100 milhões.

Segundo a Petrobras, os problemas na válvula do gasoduto da Transierra, em Yacuiba, e no campo de produção de Vuelta Grande, que foi invadido e teve a produção paralisada, afetaram parcialmente o fornecimento, mas até o momento não houve impacto para o abastecimento brasileiro. Fontes na empresa informaram que, diante da expectativa do agravamento da situação política, a Petrobras nos últimos dias enchera o gasoduto. Isso quer dizer que levaria alguns dias, caso seja mantido o corte, para ter que se reduzir o fornecimento aos consumidores.

Manifestantes ocuparam uma usina de engarrafamento de gás em Villamontes, e houve confrontos em Tarija e Santa Cruz. O governo informou que passará a Santa Cruz a conta pelos danos causados a agências estatais.

- É o início de um golpe de Estado cívico-governamental, contra a unidade do país e a democracia - disse o ministro de Governo, Alfredo Rada.

Camponeses que apóiam Morales anunciaram o bloqueio de estradas e o cerco a Santa Cruz.

COLABORARAM: Ramona Ordoñez, Rio; Chico de Gois, Manaus; Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti, Brasília

www.oglobo.com.br/mundo