Título: 'Época': Inteligência do Exército ajudou PF
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Fonte: O Globo, 13/09/2008, O País, p. 16

Delegado da operação Satiagraha também pediu informações nos serviços reservados da Marinha e da Aeronáutica

BRASÍLIA. O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz não se limitou a recorrer à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para obter ajuda na Operação Satiagraha, investigação da PF sobre supostos crimes do banqueiro Daniel Dantas. Segundo a revista "Época" desta semana, o delegado contou também com o reforço da estrutura do serviço de inteligência do Exército. Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a quem o comando do Exército está subordinado, criticou duramente a participação de agentes da Abin na Satiagraha.

Segundo a "Época", a pedido de Protógenes, o comandante do Exército, Enzo Peri, determinou o levantamento de informações internas para confirmar se um oficial da instituição foi aliciado para trabalhar no banco Opportunity, de Dantas. As suspeitas sobre o oficial teriam aparecido em conversas de integrantes do grupo de Dantas, gravadas com autorização judicial. A revista informa que o delegado suspeitava de que o militar poderia ter sido aliciado para atuar a favor de Dantas. "O comandante (do Exército) colocou o gabinete para cuidar do assunto", diz Protógenes à "Época".

Pedido de ajuda para localizar veleiros e avião

A reportagem informa ainda que o delegado também fez contatos nos serviços reservados da Marinha e da Aeronáutica. À Marinha, pediu ajuda para localizar três veleiros de propriedade de Dantas. À Aeronáutica, pediu a localização de aviões de uso exclusivo do banqueiro. Segundo "Época", a área de inteligência da Aeronáutica teria produzido um relatório chegando a mencionar que havia até Airbus.

A presença militar na Satiagraha não pára por aí. A revista mostra ainda que o major da Aeronáutica Paulo Ribeiro Branco Júnior e o sargento Idalberto Matias Araújo participaram de um encontro entre o ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio do Nascimento e Protógenes, num café próximo à sede da PF, em Brasília, no começo do ano. A partir deste encontro, Protógenes teria definido a participação de Ambrósio na Satiagraha.

Lotado na área de educação da Aeronáutica, Branco seria da área de inteligência. A revista diz que o oficial foi membro do Cisa, o serviço secreto da Aeronáutica. Ambrósio apareceu no noticiário, no início da semana, como um dos suspeitos de envolvimento no suposto grampo de autoridades, entre elas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Ambrósio negou que tenha participado de escutas telefônicas legais ou ilegais na Satiagraha.

Jobim diz que desconhecia envolvimento de militares

Ambrósio alega que apenas fez triagem de e-mails interceptados nas operações Chacal e Satigraha. O material estava protegido por sigilo. A revista informa ainda que o sargento Idalberto também era ligado à comunidade de informações da área militar. Ele seria conhecido em Brasília como "Sargento Dadá". Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o sargento teria participado de investigações sobre o senador Élcio Alvares, então ministro da Defesa.

O ministro Nelson Jobim, que estava em Porto Alegre, mandou dizer à revista que desconhecia o envolvimento de militares da ativa na operação. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército diz que as alegações do delegado "não têm fundamento". A nota sustenta ainda que não houve "participação institucional com a Polícia Federal na operação citada".