Título: Presidente está preocupado com futuro pós-2010
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 14/09/2008, O País, p. 15

"Lula vai ter que se interessar mais pela política interna do PT".

BRASÍLIA. De acordo com um dirigente petista, o presidente Lula também está preocupado com o seu próprio futuro, a partir de 2010. Independentemente de conseguir ou não eleger seu sucessor, Lula já pensa para onde ir depois que passar a faixa presidencial. Sua determinação de resgatar a vida partidária tem o objetivo de permitir que ele tenha uma tribuna institucional entre 2011 e 2014. Isso permitiria articular a sua volta ao governo, se as condições forem favoráveis.

Por todas essas razões, petistas de todas as tendências avaliam hoje que o papel do presidente Lula na escolha do próximo presidente do PT será decisivo.

- Em 2010, haverá um momento novo para o PT: pela primeira vez, Lula não será o nosso candidato. Por isso, é importante ele se preparar para essa conjuntura. Até então, ele nunca se preocupou muito com isso, porque sempre foi o nome natural do partido. Agora não será mais assim, ele vai ter que se interessar bem mais pela política interna do PT. E o PT sempre teve vida interna intensa. Aqui, não há coronelismo. Ou seja, Lula vai ter que se articular - afirma a senadora Ideli Salvati (SC), líder do PT no Senado, integrante da Executiva Nacional do partido e uma das maiores entusiastas da candidatura de Dilma.

Para Lula, PT precisa representar conjunto do país

Para criar o seu grupo, Lula tem feito movimentações, ainda discretas, em alguns setores do PT. Na concepção do presidente, esse grupo não pode ser formado na hegemonia paulista do passado e precisa representar o conjunto do Brasil. Por isso, o fortalecimento do grupo lulista será feito em torno de nomes como o dos governadores Marcelo Déda (SE), Jaques Wagner (BA) e Wellington Dias (PI), do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e do ex-governador Jorge Viana (AC).

Favorece o projeto de Lula, além de sua força e popularidade, claro, o processo de desarticulação interna a partir do escândalo do mensalão, em 2005, que atingiu os principais dirigentes do partido, incluindo José Dirceu. Agora, não há mais um grupo majoritário e com poder absoluto, como na gestão anterior. Resultado: há grande oscilação nas decisões partidárias. Mas Lula e seus aliados sabem que não podem impor às bases partidárias suas decisões.

- No PT não se constrói uma solução de cima para baixo. Por isso, para pavimentar o caminho interno e ganhar o comando do partido, será preciso amassar barro - afirma o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), completando: - Agora, uma coisa é certa: ninguém tem melhor relação com a militância do PT que o presidente Lula.