Título: Militares também no 2º turno
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Maniero, Valéria
Fonte: O Globo, 15/09/2008, O País, p. 3

Opresidente em exercício do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Alberto Motta Moraes, classificou como "apavorante" a ação de traficantes e milicianos nas comunidades ocupadas pelas Forças Armadas. Ele afirmou que vai pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a manutenção no Rio, no segundo turno das eleições, da Operação Guanabara - para garantir a segurança durante o processo eleitoral em 27 comunidades. As tropas deixaram as favelas de Rio das Pedras, Cidade de Deus, Gardênia Azul e Maré anteontem à noite; até a próxima terça-feira, permanecerão nas favelas do Taquaral, Coréia, Sapo e Vila Aliança, respeitando o cronograma de três dias em cada área, conforme determinação da Justiça Eleitoral.

Com a desocupação de Gardênia Azul, voltou a predominar no local a propaganda do candidato a vereador Cristiano Girão (PMN), suspeito de envolvimento com grupo de milícias. Sargento do Corpo de Bombeiros, Girão já foi ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Além do material de Girão, cartazes com propaganda da vereadora Silvia Pontes (DEM), candidata à reeleição, também eram vistos ontem espalhados pela comunidade. A vereadora explicou que há três anos faz trabalho voluntário na comunidade e que a faixas foram coladas por eleitores dela. Afirmou, no entanto, que, nessas eleições ainda não foi à Gardênia Azul.

Fiscais cruzam com bandidos armados

Mas, na opinião de Motta Moraes, que sobrevoou ontem as quatro favelas ocupadas pelos soldados - todas controladas pelo tráfico de drogas - Coréia e Taquaral apresentam maior risco aos eleitores. Para ilustrar como está o clima de insegurança gerado pelo poder paralelo, o presidente em exercício do TRE contou que um comboio de motocicletas, pilotadas por homens armados com pistolas, passou por fiscais do TRE que trabalhavam na remoção de placas de propaganda eleitoral ilegal na Estrada do Taquaral, altura da Coréia, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio. A audácia dos bandidos diante das tropas assustou o presidente em exercício do tribunal.

- Mesmo com a presença do Exército, eles (os traficantes) estão, ostensivamente e abusivamente, passando por aqui. Estão sem radinhos, mas nós percebemos. A cada dez motos que passam, nove não têm nem placa. Apesar de ter sido juiz, eu não conhecia essa realidade. Assustou. É apavorante - admitiu.

Motta Moraes afirmou que vai enviar ao TSE informações repassadas pelas polícias Civil e Militar e pelo Exército sobre as áreas que apresentam risco ao processo eleitoral no município. Com isso, pretende convencer os ministros do TSE a determinar a permanência das tropas até o fim das eleições. Embora dependa do aval do TSE e do Ministério da Defesa, Motta Moraes adiantou que a manutenção dos militares é praticamente certa:

- Mandaremos essas informações, e o TSE julgará o que é mais conveniente. A tendência é que o Exército continue nos municípios onde haverá segundo turno.

Motta Moraes afirmou ainda que o número de militares nas ruas deverá ser menor dos que os 3.500 dessa primeira fase, a partir da próxima etapa.

- O mais provável é que o cronograma seja mantido, mas com contingente menor. O que costuma gerar mais confrontos e mortes é a disputa entre vereadores, já definida no segundo turno - justificou, sem abordar a possibilidade de traficantes e grupos paramilitares pressionarem eleitores na reta final da corrida ao Executivo.

Os soldados do Exército que ocupavam a Estrada do Taquaral ontem à tarde revistaram pedestres na altura da Rua Ubatã, na Favela da Coréia. Os militares teriam recebido informação do serviço secreto da Polícia Civil de que os traficantes da região ameaçavam praticar um atentado no fim da tarde. A ameaça não se confirmou.

Além do trabalho de revista, a tropa deu apoio aos fiscais do TRE, que recolheram aproximadamente 600 quilos de propaganda irregular nas quatro comunidades (Vila Aliança, Sapo, Taquaral, além da Coréia). O montante, embora significativo, ficou abaixo do esperado. De acordo com moradores, integrantes da facção criminosa que controla a venda de drogas na comunidade teriam recolhido parte das placas ilegais antes da chegada dos fiscais. O objetivo seria reduzir o tempo de permanência dos agentes na área.

Em meio ao risco anunciado, o único candidato a prefeito a fazer campanha em favelas patrulhadas pelos militares foi Chico Alencar (PSOL). Ele discursou para moradores da Vila Aliança e disse que o encontro com as tropas não passou de coincidência.

- Não sabia que eles (militares) estavam aqui. A vinda à Vila Aliança já estava programada há semanas - afirmou o candidato, que foi ignorado por um soldado, ao tentar cumprimentá-lo.

Já a candidata Jandira Feghali (PCdoB) fez campanha no Complexo do Alemão, que também contará com o patrulhamento militar elaborado pelo TRE.

Os próximos destinos das Forças Armadas são a Rocinha e o Vidigal, na Zona Sul, controladas por facções criminosas. O Exército ocupará essas favelas a partir de quarta-feira.

(*) do Extra

COLABOROU: Maiá Menezes