Título: Comando da CPI é o problema
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2009, Política, p. 03

Permanece impasse sobre presidência e relatoria da comissão parlamentar de inquérito que investigará irregularidades na Petrobras. Líder petista escolhe nomes da tropa de choque para iniciar os trabalhos

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mantém o suspense em relação ao comando da CPI da Petrobras e ainda acena com a possibilidade de um acordo, cada vez mais improvável, para entregar a presidência da CPI à oposição. ¿Não há nada decidido sobre isso, a maioria governista só vai ocupar a presidência e a relatoria da CPI se não houver um entendimento razoável com a oposição sobre a condução dos trabalhos¿, disse ontem, depois de um dia de intensas negociações com os partidos da base aliada e sua própria bancada.

Até o fechamento desta edição, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), havia indicado os nomes de Ideli Salvatti (SC) e João Pedro (AM), ambos do PT, e Inácio Arruda (PCdoB-CE). Renan, por sua vez, indicou Paulo Duque (RJ), Romero Jucá (RR) e Leomar Quintanilha (TO). Jeferson Praia (AM) e Fernando Collor (AL) foram os nomes do PDT e PTB.

Renan havia prometido anunciar os nomes do PMDB que integrarão a CPI num discurso em plenário, no fim da tarde, mas permaneceu trancado em seu gabinete, enquanto os demais líderes se revezavam na tribuna do Senado para homenagear o falecido senador Jefferson Péres (PDT-AM). No começo da noite, se reuniu com Ideli, cotada para assumir a presidência da CPI. Depois, deixou o gabinete para uma conversa com o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão (PMDB-MA), pasta à qual a Petrobras está formalmente subordinada.

A grande preocupação de Renan é com a capacidade de retaliação da oposição no Senado, pois os líderes do PSDB e do DEM começaram a obstruir as sessões e paralisar a Casa. O líder do DEM, José Agripino (RN), avisou que a resposta à posição da base aliada será a obstrução, impedindo as votações em plenário no Senado, como já ocorreu ontem. ¿Eles não têm número para fazer o presidente e o relator da CPI? Então que coloquem número em plenário para aprovar o que eles querem. Suspendeu-se o entendimento que estava sinalizado. Vamos usar de todos os instrumentos regimentais para impedir a aprovação de matérias em que não há acordo¿, disse Agripino.

Seis MPs trancam a pauta e quatro delas perdem a validade se não forem votadas até a próxima segunda-feira. Entre elas está a MP que reajustou para R$ 465 o salário mínimo a partir de fevereiro. Sem poder contar com a oposição, a base aliada terá de se articular para evitar que os projetos do governo percam a eficácia. Além disso, José Sarney teme que a radicalização de posições acabe prejudicando ainda mais a sua gestão, que está sendo marcadas por sucessivas denúncias contra a gestão da Casa. Na verdade, tudo caminhava para um entendimento no sentido de que o DEM indicasse o senador ACM Junior (BA) para presidir a comissão, ficando o PSDB com os outros dois titulares da oposição na comissão, os senadores Álvaro Dias (PR) e Tasso Jereissati (CE), mas o acordo foi atropelado pelo presidente Luiz Inácio lula da Silva.

Controle Lula se reuniu com Renan na segunda-feira e pediu que a base mantivesse pleno controle dos trabalhos da CPI. A melhor maneira de garantir isso é indicar o relator e o presidente da comissão. A preferência do Planalto é pela indicação de Romero Jucá como relator, mas essa revelação, atribuída a Aloizio Mercadante, irritou Renan. Ele agora empurra a decisão com a barriga, enquanto os senadores se agitam. Paulo Duque ganhou força para assumir a função na noite de ontem.