Título: Após semanas sob ataque, Petrobras volta a ser afagada pelo governo Lula
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 14/09/2008, Economia, p. 32

Para o Congresso, nova lei para o pré-sal depende de apoio da empresa.

BRASÍLIA. Nas últimas semanas, a Petrobras foi do inferno ao céu dentro do governo. Se, no início de agosto, foi colocada na berlinda por uma parcela dos ministros que discutem as novas regras do setor de petróleo, nos últimos dias foi redimida por um discurso de exaltação feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a chamou de "mãe" da industrialização do país. Essa oscilação de humor reflete o pragmatismo dos estrategistas do Palácio do Planalto, que fizeram uma leitura política dos riscos de manter a maior estatal sob ataque. Colocá-la em uma posição fragilizada teria reflexos não apenas no valor de mercado da companhia, mas poderia ser um tiro político no pé.

No Congresso Nacional, alastra-se o discurso de que não haverá como o governo aprovar novas regras para o setor de petróleo na exploração do pré-sal sem contar com a Petrobras. A proposta de criação de uma estatal para coordenar a produção dos megacampos somente vai vingar se não significar uma sombra sobre a Petrobras. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), por exemplo, defende a capitalização da empresa, para que ela ganhe musculatura para investimentos futuros:

- Haverá dificuldade de construção de uma sustentação política (para o projeto que altera as regras do setor) sem a parceria com a Petrobras. No pré-sal, a Petrobras é a empresa que tem vantagens inigualáveis.

Dornelles: "Petrobras é politicamente intocável"

O mesmo pensa o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), para quem a Petrobras se fortaleceu politicamente nas últimas décadas, desde sua polêmica criação nos anos 50 até obter os atuais avanços na exploração em águas profundas:

- A Petrobras hoje é politicamente intocável, e qualquer tentativa de prejudicá-la seria um tiro pela culatra. Mas o governo e a empresa precisam compreender que não há como explorar todo o pré-sal sem contar com parcerias privadas.

Para justificar a criação de uma estatal, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, argumentava que a Petrobras não poderia ficar com a concessão dos campos do pré-sal por ter mais de 60% do seu capital nas mãos do mercado, particularmente na Bolsa de Nova York. Em outras palavras, a riqueza do pré-sal iria para os gringos.

Além disso, setores do governo também temem que as reservas do pré-sal possam dar à empresa, a médio prazo, um poder político maior, capaz de fazê-la uma força concorrente de ministérios. A nova estatal serviria para quebrar esse poder ascendente.

Todo esse burburinho ajudou a derrubar as ações da estatal em um ritmo maior do que o verificado no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), responsável pela indicação de José Sergio Gabrielli - hoje presidente da empresa - para a diretoria da estatal, é um dos que rechaçam a idéia de prejudicar a Petrobras:

- Ela é um gigante, uma empresa de meio século e um orgulho para o país. É uma bobagem (qualquer ação que possa prejudicá-la) - disse.

Aos 55 anos e a maior companhia de capital aberto da América Latina, a Petrobras tem sua imagem associada a uma série de predicados pela maioria da população, segundo a própria empresa. Pesquisas internas da estatal mostram que a opinião pública a considera "social e ambientalmente responsável", que oferece "produtos e serviços de qualidade", um ótimo "local para se trabalhar" e capaz de angariar o respeito e a admiração da população.

Estatal ocupa lugar da Varig no exterior, afirma consultor

Segundo Alejandro Pinedo, presidente no Brasil da Interbrand, consultoria internacional de marcas, se no passado a Petrobras era considerada apenas uma estatal que tirava óleo do subsolo, nos últimos anos se consolidou como uma representante internacional do país, um posto que durante décadas foi da Varig.

- A Petrobras hoje é um grande símbolo, que leva o Brasil pelo mundo, com as cores verde e amarelo e um sentimento de orgulho por suas conquistas e seu gigantismo. A empresa se preocupa em deixar claro que ela pertence a cada um dos brasileiros, e essa reputação criou uma torcida a seu favor, que a ajuda nos momentos de crise - avalia Pinedo.

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