Título: Empregos em jogo
Autor: Chaves, Luiz
Fonte: O Globo, 12/09/2008, Opinião, p. 7

Foi-se a época das grandes encomendas de navios e plataformas da Petrobras no exterior. Tempo que o governo nacional priorizava compras lá fora - deixando de gerar crescimento econômico, emprego e renda aqui. Esse tempo se foi. Mas, nem tanto.

A consolidação do país como grande produtor de petróleo em águas profundas fez o presidente Lula designar a Petrobras para a importante tarefa de alavancar a indústria naval brasileira. Seu ápice foi o lançamento do Programa de Modernização e Expansão da Frota de Embarcações de Apoio da Petrobras, em maio deste ano, com a contratação de 23 navios petroleiros e 146 navios de apoio às atividades de produção e exploração de petróleo offshore.

Essa política exige um esforço concentrado em prol do país. O governo faz a sua parte. As indústrias se preparam adequadamente. Os trabalhadores, idem. Os 26 estaleiros de portes médio e grande instalados em diversos estados brasileiros, com 40 mil trabalhadores qualificados, têm plena capacidade para atender, hoje, às encomendas nacionais. Mas dentro da Petrobras nem tudo caminha neste sentido.

O caso da plataforma P-62: tecnicamente, segundo diretores da estatal, trata-se de um clone do navio-plataforma P-54 construído no estaleiro Mauá-Jurong. Assim, a exemplo do que se fez com a P-56, que é clone da P-51 construída no Keppel Fels, em Angra dos Reis, seria natural a construção da P-62 no estaleiro que detém o seu projeto de engenharia, no caso, o Mauá. Certo? Errado, para os ideólogos do "clube fechado de afretadores estrangeiros", que preferem a desistência da P-62, e a opção por abrir licitações para a P-61 e a P-63 junto aos afretadores estrangeiros. Por isso, o estaleiro Mauá, instalado desde 1845, na Ponta D"Areia, em Niterói, também orgulho da nossa gente, corre o risco de fechamento com os seus 4 mil trabalhadores.

Contrariando orientação de nacionalização do presidente Lula, tal política foi responsável nos últimos seis anos pela importação de 12 plataformas de produção de petróleo, afretadas e construídas na Ásia, com apenas 2% de conteúdo nacional. No mesmo período, apenas seis plataformas foram contratadas para construção no Brasil. Deixou-se de criar 50 mil empregos.

A indústria naval do Rio de Janeiro ganhou licitação da Transpetro - braço logístico da Petrobras na área de transporte - para a construção de nove navios. Por inapetência da Petrobras, ou por excesso de apetite (preço muito fora do padrão) do arrendador dos diques, a construção dos navios ainda não pode ser viabilizada no estado.

Ninguém deseja a Petrobras refém de piratas. Bastaria ela abrir nova licitação e arrendar o parque industrial do Caju, onde existe um dos maiores diques da América Latina. Por que não?

O Rio de Janeiro não pode abrir mão de 18 mil postos de trabalho e, ainda, perder outros 4 mil já existentes. É isso que acontecerá se a Petrobras decidir levar para outros estados a construção dos navios já licitados para os estaleiros fluminenses.

LUIZ CHAVES é coordenador do Fórum Nacional Intersindical dos Trabalhadores da Indústria Naval e Offshore.