Título: Lula faz apelo por acordo interno na Bolívia
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 14/09/2008, O Mundo, p. 38

Presidente confirma presença em reunião de emergência convocada pelo Chile mas adverte contra ingerência sobre vizinho.

PETRÓPOLIS. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, convocou para amanhã uma reunião de emergência da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) em Santiago para analisar a tensa situação na Bolívia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença, assim como os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner. No entanto, temendo que o encontro seja encarado como um tipo de intervenção, Lula fez um apelo para que a crise na Bolívia seja contornada com um entendimento interno, entre governo e oposição, e deixou claro que o governo brasileiro vai impedir qualquer tentativa de ingerência externa sobre o país.

-¿ É importante que a gente tenha clareza no seguinte: não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem que haja a concordância do governo e da oposição boliviana. São eles que têm que nos dar o paradigma da nossa participação, se não será ingerência de um país na soberania de outro país. E isso o Brasil não fará em hipótese alguma ¿- afirmou o presidente.

`Vamos reunir o conjunto de presidentes para quê?¿

Com uma clara preocupação com o sentido político da reunião, o presidente questionou:

¿ Eu pedi para o Celso Amorim ligar para as pessoas para saber o seguinte: vamos reunir o conjunto de presidentes para quê? Não podemos tomar a decisão pela Bolívia. É preciso que a Bolívia dê o parâmetro. Temos que saber o que a Bolívia quer que a gente faça.

Bachelet disse que o encontro busca ¿uma atitude positiva, construtiva, que permita buscar o apoio aos esforços do povo boliviano, do governo boliviano, em busca de uma garantia do processo democrático e da estabilidade e da paz na Bolívia¿.

Os presidentes dos países integrantes da Unasul ¿ órgão criado no Brasil em maio para a coordenação política, econômica e social da região ¿ vêm conversando intensamente nos últimos dias por telefone sobre a situação no país vizinho em respaldo ao governo do presidente Evo Morales.

Anteontem, a Bolívia informou que não aceitaria a intromissão de tropas estrangeiras em seu território, rejeitando a oferta do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de apoiar grupos armados em caso de tentativa de golpe contra Morales.

Morales agradece apoio, mas não confirma presença

Ontem, Morales agradeceu a solidariedade da comunidade internacional a seu governo e disse que compartilha com ¿muitos presidentes da América do Sul a proposta de uma reunião de emergência do Unasul no Chile¿, mas não revelou se comparecerá ao encontro da união.

¿ Em nome do povo boliviano e em nome pessoal agradeço a grande solidariedade da comunidade internacional. Todos expressaram a defesa da democracia boliviana ¿ afirmou o presidente no palácio presidencial de Quemado, em La Paz. ¿ Estas iniciativas me fortalecem e me comprometem a seguir aprofundando e consolidando a democracia boliviana, mas fundamentalmente este processo de mudança, a transformação do país.

Lula afirmou que tem conversado com Morales, Chávez, Cristina Kirchner e Bachelet desde quinta-feira. Ele disse que chegou a avisar ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que iria a La Paz. Mas desistiu depois de conversar com Morales.

A Unasul é formada por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Com agências internacionais