Título: Acne e depressão: relação perigosa
Autor: Vianna, Maria
Fonte: O Globo, 14/09/2008, Ciência / Saúde, p. 44

Pelo menos 66% dos jovens com quadro avançado de espinhas sofrem de ansiedade.

FORTALEZA. A acne incomoda mais do que muitos distúrbios crônicos, como a asma, a psoríase e a epilepsia, e pode causar danos psicológicos profundos. Mas, ainda assim, não recebe a devida atenção de pais e, muitas vezes, de médicos. A conclusão é de estudo inédito divulgado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Segundo o levantamento, 66% dos jovens com quadros avançados de acne sofrem de ansiedade e 18% deles têm depressão.

Especialistas presentes no Congresso Brasileiro de Dermatologia, realizado esta semana em Fortaleza, chegaram a um consenso sobre o que todo adolescente aprende na prática: a acne tem um impacto negativo na auto-estima e no convívio social dos jovens. O dermatologista Sérgio Talarico, um dos coordenadores do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que está conduzindo uma pesquisa sobre o tema no hospital da instituição, garante que jovens com acne ficam mais tímidos, reclusos, melancólicos e inseguros.

O ideal é tratar dos cravos e das espinhas logo no início, lembra a dermatologista Regina Shechtman, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. A escolha dos medicamentos vai depender principalmente do grau do distúrbio, da idade e do estilo de vida do paciente.

¿ Os mais jovens têm dificuldade de seguir o tratamento e acabam tendo pouco resultado, principalmente quando são obrigados a se cuidar pelos pais ¿ explicou a médica. ¿ Nestes casos, tenho experimentado com sucesso um novo tipo de laser que diminui a inflamação das lesões e ajuda a controlar a oleosidade da pele.

Timidez e baixa auto-estima

Uma sessão desse tratamento custa, em média, R$400 e a recomendação é que seja feita com intervalos de duas semanas.

A secretária Valdene da Silva Ferreira, de 30 anos, já estava se convencendo de que passaria a vida com a pele marcada. Ela começou a tratar da pele aos 14, mas, aos 25, apresentava a mesma quantidade de espinhas de quando era adolescente. O fim da acne só veio no ano seguinte, quando ela adotou um tratamento multifatorial.

¿ Fui a vários médicos durante anos. Eu começava o tratamento direitinho, mas quando não via o resultado logo, desistia. Só há alguns anos que encontrei um dermatologista que ouviu minhas queixas com cuidado e me ajudou a ter paciência ¿ contou Valdene, que se tratou com ácidos, antibióticos orais e peelings. ¿ Passei anos sofrendo, fui uma adolescente inibida, me achava feia e tive muita dificuldade para conseguir meu primeiro emprego. Quem não conhece bem a acne acha que é desleixo ou falta de higiene. É uma sensação horrível.

Os tratamentos combinados com retinóides e antibióticos tópicos ou de via oral são a aposta de Sérgio Talarico, que garante que 80% dos casos deixam de evoluir se tratados no início. Para a acne severa, a isotretinoína, único medicamento que consegue controlar todos os fatores que desencadeiam a doença, ainda costuma ser a melhor solução. Entretanto, o acompanhamento médico deve ser rigoroso, alertam especialistas.

Em breve, adultos com cicatrizes profundas vão pode testar uma técnica feita com ácido L-polilático, uma substância que estimula a produção de colágeno nas células e dá mais firmeza à pele. Estudos feitos pelo dermatologista dinamarquês Danny Vleggaar, da Clínica Vert Pré, em Genebra, mostram que o ácido preenche as depressões com eficácia.

¿ O procedimento não funciona em todos, já que nem todas as cicatrizes de acne são iguais. Algumas precisam ser removidas cirurgicamente ¿ ressaltou o especialista, que veio ao Brasil para participar do congresso. ¿ Mas pacientes que testaram o método ficaram muito satisfeitos. Associado a outros tratamentos, o resultado é ainda melhor.

(*) A repórter viajou a convite da Sanofi-Aventis