Título: Escolas eram usadas para pedir votos em Magé
Autor: Otavio, Chico; Martins, Marco Antônio
Fonte: O Globo, 12/09/2008, O País, p. 8

Com a análise do material apreendido ontem em Magé, a Polícia Federal e o Ministério Público Eleitoral tentarão comprovar que a prefeita Núbia Cozzolino (PMDB), candidata à reeleição, pressiona funcionários e diretores de escolas públicas a fazer campanha para ela e para os candidatos de sua chapa. Ontem, policiais federais cumpriram 42 mandados de busca e apreensão em escolas municipais da cidade.

As diligências, autorizadas pela 110ª Zona Eleitoral, foram requeridas pelo Ministério Público, que recebeu denúncias de que diretores e professores estavam, ilicitamente, coagindo os pais dos alunos a votar em determinados candidatos. De acordo com as denúncias, havia até ata de reunião em que os professores seriam obrigados a anotar quantas pessoas compareceram, os números de seus títulos eleitorais e endereços.

Informações colhidas pela Promotoria Eleitoral de Magé revelaram que, nas reuniões, eram oferecidos aos pais de alunos benefícios como cestas básicas em troca de votos. Há denúncias de que professores estariam indo pessoalmente à casa dos alunos para entregar os boletins escolares, aproveitando a ocasião para fazer propaganda eleitoral de determinados candidatos.

Polícia suspeita de vazamento da operação

Os policiais federais começaram a cumprir os mandados no início da manhã. A PF foi informada de que, na madrugada, pessoas ligadas à prefeita percorreram escolas e recolheram documentos. Mesmo assim, os agentes apreenderam material que consideram provas contra a candidata.

- Encontramos cópias de título de eleitor, além de papéis que comprovam a prática de reuniões. Os servidores eram ameaçados com a perda dos cargos ou punição caso não ajudassem - afirmou Victor Hugo Poubel, chefe da Delegacia da PF em Niterói.

Entre os documentos apreendidos, os policiais encontraram uma lista de lembretes a serem seguidos pelos diretores durante as reuniões com os pais. Todos os encontros deveriam ser fotografados pelos organizador.

Além de Núbia, a ação também teria beneficiado o candidato a vereador Waldeck da Praia de Mauá. De acordo com a promotoria, alguns diretores e professores estariam agindo por conta própria. O uso desenfreado da máquina municipal na campanha também atingiria agentes do Programa Saúde da Família (PSF), obrigados a fazer reuniões políticas diárias com moradores atendidos pelos serviços.

Há um mês, Núbia reclamou da fiscalização, que mandou suspender programas assistenciais usados como moeda:

- Tudo nosso é implicado (sic). Ninguém quer saber da outra (a ex-prefeita Narriman Zito, candidata pelo PRB). Proibiram de dar pão, dar leite, coisa que a gente faz desde 2005. Nem caixão podemos dar mais - disse na época.

A candidata também é acusada de perseguir quem nega apoio. O medo ronda até os servidores concursados da prefeitura. Duas professoras de história da Escola Municipal Aureliano Ribeiro, em Piabetá, foram transferidas em maio, em retaliação às lições sobre coronelismo e a República Velha.

-- Um dos alunos da 8ª série era filho de uma amiga da prefeita e comentou com a mãe o que estava aprendendo. Logo depois, a diretora pediu minha transferência. Só dei a matéria do livro. Não tenho culpa se Núbia age dessa maneira -- conta Idinéia Soares Ferreira, a professora.

Fiscal eleitoral sofreu retaliação da prefeita

O delegado Victor Poubel conta que uma fiscal do Tribunal Regional Eleitoral teve o asfalto da rua onde mora retirado após aplicar uma multa contra a prefeita.

- Os eleitores de Magé estão muito descrentes. Eles precisam ter a consciência de que têm o direito de escolher um candidato sem pressão - comentou o delegado.

O marido de Núbia, Orney dos Santos Pereira, conhecido como Ney da Núbia, foi assassinado com oito tiros no dia 17 de julho, no distrito de Fragoso, em Magé.

* Do Extra