Título: Moreira cada vez mais "inocente"
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2009, Política, p. 05

Apesar dos ataques de tucanos e democratas, a maioria do Conselho de Ética dá sinais de que o deputado do castelo vai se livrar da cassação. Durante novo depoimento, o parlamentar preferiu ficar calado

Depois de dois depoimentos de Edmar Moreira (sem partido-MG) no Conselho de Ética, o gosto amargo de uma salgada pizza começa a ser sentido entre os integrantes do colegiado. Apenas PSDB e DEM levantam dúvidas sobre as explicações dadas até agora pelo deputado do castelo. Os outros parlamentares ainda continuam com a opinião de que o acusado foi um ¿boi de piranha¿ e não há motivos para perda do mandato e dos direitos políticos.

Os deputados afáveis aos argumentos da defesa repetem não haver ilegalidade na utilização da verba indenizatória em proveito próprio. ¿Não há ilícito, pode ser imoral, mas não é ilegal. Esse caso só ganhou dimensão nacional mais pelo castelo do que pela verba. Hoje tem uma disciplina no uso da verba, antes não tinha¿, argumentou o deputado Abelardo Camarinha (PSB-SP).

O castelo de R$ 25 milhões no interior de Minas Gerais não está em jogo no Conselho de Ética. Edmar Moreira responde a processo disciplinar por injetar R$ 230,6 mil da verba indenizatória, entre 2006 e 2007, em suas empresas, a Ronda e a Itatiaia. A Corregedoria da Câmara diz não haver comprovação do serviço prestado.

O deputado Sérgio Brito (PDT-BA) também vai na mesma linha. Disse que seu colega tem subsídios para mostrar que os serviços de segurança foram de fato realizados. Outro favorável a absolvição é o ex-relator Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele que se lixa para a opinião pública.

¿Fissurado¿ A defesa de Edmar Moreira acabou reforçada com o depoimento do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG). Titular do Conselho de Ética, o peemedebista disse que seu conterrâneo é ¿fissurado¿ em segurança. ¿Ele sempre andou rodeado de seguranças, tinha comboio de proteção¿, sustentou Lopes na frente dos conselheiros.

Era o que faltava para dar argumentos aos pizzaiolos do Conselho de Ética. Alguns deputados sustentam ser necessário ainda ouvir o depoimento de Jairo Lima, chefe da segurança pessoal de Moreira. Tenente reformado da Polícia Militar, Lima, que ainda não se dispôs a comparecer ao Conselho, trabalhou no gabinete do deputado estadual Leonardo Moreira (sem partido), filho de Edmar Moreira, e foi exonerado em 2005. Para o deputado Ruy Pauletti (PSDB-RS), sem a declaração do tenente reformado é difícil a comprovação do serviço prestado.

Juízo O relator do processo, Nazareno Fonteles (PT-PI), reconhece que o sentimento pró-cassação ainda está longe de ser alcançado. ¿Nesse contexto que as coisas estão acontecendo são agravantes para a formação de juízo de todos os conselheiros. Ouvi de alguns expressando essa opinião, mas falta muita coisa para chegar lá¿, disse o petista.

Edmar Moreira, em seu segundo depoimento, usou tática diferente, ficou na defensiva. Recusou-se a responder a maioria das perguntas de Fonteles. E silênciou-se nos questionamentos feitos pelos representantes de seu ex-partido DEM, Solange Amaral (RJ) e Roberto Magalhães (PE). O deputado mineiro alegou estar sendo perseguido pela antiga legenda.