Título: Dólar volta a valer mais de R$1,80
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 12/09/2008, Economia, p. 23
Em seu quarto dia seguido de alta, o dólar ultrapassou R$1,80 e atingiu ontem a maior cotação desde 23 de janeiro: a moeda subiu 1,68% e encerrou cotada a R$1,818. No ano, a valorização acumulada já é de 2,31%, e, no mês, de 11,19%. Com alta, até o Banco Central (BC) desistiu de fazer seu leilão diário de compra de dólares no mercado à vista, para não pressionar mais a cotação. Foi a primeira vez desde outubro do ano passado que o BC ficou fora das negociações no câmbio.
A autoridade monetária deixou de comprar dólares em 2007 por quase dois meses - de 13 de agosto a 5 de outubro -, período em que a moeda voltou a ser cotada perto de R$2, com o agravamento da crise das hipotecas americanas. O Banco Central voltou a fazer leilões diários em 8 de outubro, quando a moeda fechou a R$1,818, a mesma cotação de ontem. Para analistas, o BC indicou para o mercado que não sancionaria uma cotação tão alta.
- Todos estavam criticando a atuação do BC, dizendo que, nesse ambiente, ele não deveria participar do mercado porque ajuda a puxar as taxas - diz Sidnei Nehme, diretor-executivo de câmbio da NGO Corretora, que avalia que as próprias instituições financeiras podem estar forçando a alta do dólar.
Libra já cai mais de 12% desde julho
Nos últimos dias, o BC vinha comprando pequenas quantidades, US$43 milhões por dia, em média - chegando a modestos US$3 milhões em alguns dias -, para compor as reservas internacionais. As compras de dólar pelo BC costumam ser interpretadas como uma forma de evitar a queda forte da moeda, que prejudica exportadores.
Nehme destaca que os investidores estrangeiros estão apostando na alta do dólar em contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), mas a tendência é esse movimento se inverter. Isso porque a elevação anteontem da taxa básica de juros para 13,75% ao ano aumenta a atratividade do real em relação às moedas estrangeiras.
O dólar tem se valorizado frente a todas as moedas, com a perspectiva de menor crescimento dos demais países. A libra despenca 12,35% desde 15 de julho. Na quarta-feira, atingiu US$1,753, menor cotação desde 14 de abril de 2006. Ontem, em Nova York, o euro chegou a US$1,4009, menor cotação desde setembro de 2007, e fechou em queda de 0,95%, a US$1,4033.
Já o mercado de ações teve mais um dia de recuperação. Se na quarta-feira a alta da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi puxada pelas ações da Vale, ontem o impulso foi dado pelos papéis da Petrobras. O Índice Bovespa (Ibovespa) subiu 3,30%, voltando a mais de 51 mil pontos: 51.270.
CVM terá dois novos diretores
No dia, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da estatal subiram 10,22%, para R$38,70, e as preferenciais (PN, sem voto), 9,48%, para R$31,40. As duas foram as maiores altas entre os papéis do Ibovespa, no qual têm peso de 18,21%. O impulso para as ações veio do anúncio, na noite de quarta-feira, da estimativa de que a área de Iara, no pré-sal da Bacia de Santos, tenha de 3 bilhões a 4 bilhões de barris de petróleo e gás natural.
Outras que subiram bem no dia foram as ações de siderúrgicas e da Vale, com a recuperação das matérias-primas, avalia Eduardo Roche, chefe de análise da Modal Asset. Os papéis da CSN subiram 7,41%, os da Gerdau, 4,58%, e os da Vale, 5,18% (ON) e 4,11% (PN). Nos EUA, o índice Dow Jones subiu 1,46% e o Nasdaq, 1,32%.
O Ministério da Fazenda informou ontem a indicação de dois novos nomes para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Eliseu Martins, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, vai completar o mandato do diretor Durval Soledade até 2009. Otávio Yazbek, atual diretor de Auto-Regulação da Bovespa, assume em janeiro, após o fim do mandato de Sérgio Weguelin, e fica no cargo até 2013.
(*) Com agências internacionais