Título: Fed e Tesouro dos Estados Unidos ajudam a vender Lehman Brothers
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Fonte: O Globo, 12/09/2008, Economia, p. 24

Instituição deve ficar com Bank of America. Anúncio será feito nas próximas horas

Do Washington Post*

WASHINGTON e NOVA YORK. O Departamento do Tesouro e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) estão ajudando o Lehman Brothers a se colocar à venda após perdas expressivas com a crise do mercado imobiliário. Os detalhes não foram concluídos, mas fontes ligadas ao assunto disseram que a operação de compra deve ser fechada e anunciada nas próximas horas. O mais provável é que o Lehman seja oferecido ao Bank of America, maior instituição financeira americana, informou o site do "Wall Street Journal".

O Fed e o Tesouro estão discutindo com várias empresas e analisando cenários para a venda do quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, que tem 158 anos. O presidente do Lehman, Richard Fuld, é membro do Conselho de Administração do Fed de Nova York.

Na quarta-feira, tentando mostrar que poderá enfrentar a crise do crédito que provocou um prejuízo trimestral de US$3,9 bilhões, o banco anunciou que vai vender uma participação majoritária em sua divisão de administração de recursos, reduzir seus dividendos e se desfazer de US$30 bilhões em imóveis.

Mercado questiona garantia dada às baixas contábeis

Mas o plano não conseguiu acalmar os mercados. As ações do Lehman caíram ontem 41,79%, para US$4,22, contra mais de US$60 em fevereiro. No ano, a queda acumulada é de 89%. Os investidores temem que o Lehman tenha o mesmo destino que o Bear Stearns, comprado em março pelo JPMorgan - com uma injeção de US$30 bilhões do Fed.

Outro banco que sofreu com a ansiedade dos mercados foi o Washington Mutual: chegou a cair 30%, antes de fechar em alta de 22% ontem.

O Goldman Sachs reduziu ontem sua recomendação para os papéis do Lehman, de "comprar" para "neutro", afirmando que o plano de reestruturação ficou aquém do necessário, e o Citigroup, de "comprar" para "manter". A agência de classificação de risco Moody"s disse que cortará o rating do banco se este não fechar logo um acordo com um parceiro mais forte.

Durante o dia, circularam rumores de que o Lehman estaria conversando com diversas instituições financeiras para tentar garantir sua sobrevivência. BNP Paribas, Deutsche Bank e Barclay foram alguns dos bancos mencionados, mas, mais tarde, o site do "Wall Street Journal" apontava o Bank of America como mais provável.

Na teleconferência do Lehman, os analistas questionaram sobre as garantias de que a baixa contábil de US$5,6 bilhões registrada no trimestre findo em 31 de agosto - devido à queda no valor de ativos ligados a hipotecas residenciais - refletia verdadeiramente a crise no mercado imobiliário. Isso mostra o ceticismo dos mercados, mesmo após a intervenção do governo nas gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac.

- Permanecem dúvidas em termos de confiança dos atores financeiros, e isso não irá embora apenas com o socorro do Bear Stearns e o resgate de Fannie e Freddie - disse Michael Kastner, diretor-gerente da Sterling Stamos Capital Management. - Precisamos de pelo menos um trimestre sem baixas contábeis.

(*) Com agências internacionais