Título: Câmara tem corruptos, matadores e poucos que trabalham
Autor: Duarte, Alessandra; Lima, Ludmilla de
Fonte: O Globo, 16/09/2008, O País, p. 3

Gabeira ataca Legislativo municipal e defende diálogo; embolados, candidatos mudam estratégias na reta final.

Embolados na briga pela terceira colocação, os candidatos a prefeito Jandira Feghali (PCdoB), Fernando Gabeira (PV), Solange Amaral (DEM) e Alessandro Molon (PT) começaram a mudar a estratégia nesta reta final da campanha. Seus marqueteiros vão gastar menos tempo do programa de TV com propostas e mais com os candidatos ressaltando suas diferenças de história e posição política em relação aos adversários.

A nova fase da campanha de Gabeira - com 6% na última pesquisa Ibope, em empate técnico com Jandira (9%), Solange (5%) e Molon (4%) - já era perceptível ontem, quando o candidato, em encontro com a equipe do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), no Humaitá, destacou seu papel de líder político, inclusive para negociar com a Câmara de Vereadores.

Ao falar no assunto, Gabeira subiu o tom ao dividir a atual Câmara em três partes:

- Há uma parte corrupta, uma que trabalha pouquinho e outra de matadores - afirmou, para depois dizer que conhece picaretas de várias dimensões. Mas insistiu que as dificuldades de negociação com a Câmara poderão ser superadas com diálogo, prometendo dedicar um dia da semana para receber os vereadores:

- Vamos fazer com que o vereador veja que ele não tem que se vender para melhorar o seu bairro.

No fim de semana, Gabeira disse que, "pela primeira vez, tem chance real de ir para o segundo turno". Ontem, afirmou que seu papel como prefeito não será o de síndico ou de dona-de-casa. Mesmo discurso já repetido por seu marqueteiro, o publicitário Lula Vieira. A intenção é tentar estabelecer diferença com Eduardo Paes (PMDB), que não cansa de dizer que será um síndico na prefeitura, e com Marcelo Crivella (PRB), cujo lema é "Vamos arrumar o Rio":

- Se consideramos que está tudo bem, que passamos por leve turbulência, um síndico e uma dona-de- casa ajudarão enormemente. Mas se considerarmos que a crise é profunda, aí precisamos de um político - disse.

Responsável pelo programa de TV de Jandira, Paulo de Tarso segue a linha da politização. Um de seus objetivos é relacionar a candidata ao governo Lula.

- Vamos mostrar de que lado do espectro político ela é e de que lado os outros são. Lula bate recorde de aprovação, e quem nunca olhou para o outro lado parece um aliado velho, quando na verdade foi adversário - ataca Tarso, referindo-se a Paes.

A politização da campanha de Jandira inclui ataques a Paes via governo estadual, que apóia o candidato do PMDB. No programa de TV, ela já começou a criticar os hospitais estaduais, mostrando pessoas à espera de atendimento.

- Não adianta dizer que vai resolver a saúde se hoje a saúde do estado está pior do que a rede municipal. Se está lá, por que já não fez? Vamos agora marcar permanentemente a diferença entre quem fala e quem faz - disse Jandira, baseada em pesquisas feitas com grupos de dez eleitores.

O estado também é alvo de Solange. Ela quer reforçar a idéia de que representa um "governo de realizações" e Paes "um governo que abandona a saúde e os servidores":

- O candidato do PMDB tem usado o horário eleitoral para confundir. Ele fica dizendo que as coisas que o prefeito (Cesar Maia) fez foi ele que fez.

Na campanha de Molon, a maior novidade foi a presença do presidente Lula, no programa eleitoral de ontem à noite. Mas Lula não cita o nome de Molon. Era uma gravação genérica, disponível a candidatos do PT, em que Lula pede o voto para o partido. Logo depois, é o ministro da Educação, Fernando Haddad, que aparece como cabo eleitoral. O restante do programa, porém, repetiu imagens do início do horário eleitoral.