Título: 'Não há estratégia de segurança'
Autor: Duarte, Alessandra
Fonte: O Globo, 16/09/2008, O País, p. 4
Para enfrentar as milícias, será preciso desenvolver um trabalho de inteligência, e não realizar megaoperações, diz Philip Alston, da ONU, para quem não há uma estratégia de segurança no Rio.
Como o senhor vê a ligação entre milicianos e traficantes com a política e com candidatos?
PHILIP ALSTON: É inevitável que traficantes e milicianos, à medida que ganhem poder, também comecem a assumir um papel no processo eleitoral. Eles têm dinheiro, controle sobre a vida de muitas pessoas, e, inevitavelmente, vão querer ganhar legitimidade política.
Semana passada, tropas militares começaram a fazer ocupações de três dias em comunidades em que há milícias e tráfico de drogas. O que o senhor acha disso?
ALSTON: Nós sabemos que, em três dias, isso não serve para nada. Podem prender pessoas, matar, mais nada. Não é uma ação eficaz de combate à criminalidade. Quando saem das favelas, milicianos e traficantes voltam. Não há uma estratégia de segurança. É preciso reforma das polícias, aumento salarial, fim da separação entre polícias Militar e Civil, porque a polícia não é uma ação militar, é de inteligência. O Rio está pior que São Paulo nisso. No Rio, a energia é gasta em megaoperações, que criam manchetes de jornais e satisfazem os que querem ver alguma ação, mas não têm efeito para diminuir a criminalidade. Pelo contrário: levam as pessoas a verem a polícia como a ameaça, e não os criminosos.
Em 2007, o senhor já havia visto a ligação entre milícias, tráfico e a política?
ALSTON: Sim, ouvi depoimentos de relações de políticos com milicianos ou traficantes. Isso envolve corrupção e o fato de que os políticos sabem onde os milicianos estão, mas não agem.(Alessandra Duarte)
Para enfrentar as milícias, será preciso desenvolver um trabalho de inteligência, e não realizar megaoperações, diz Philip Alston, da ONU, para quem não há uma estratégia de segurança no Rio.
Como o senhor vê a ligação entre milicianos e traficantes com a política e com candidatos?
PHILIP ALSTON: É inevitável que traficantes e milicianos, à medida que ganhem poder, também comecem a assumir um papel no processo eleitoral. Eles têm dinheiro, controle sobre a vida de muitas pessoas, e, inevitavelmente, vão querer ganhar legitimidade política.
Semana passada, tropas militares começaram a fazer ocupações de três dias em comunidades em que há milícias e tráfico de drogas. O que o senhor acha disso?
ALSTON: Nós sabemos que, em três dias, isso não serve para nada. Podem prender pessoas, matar, mais nada. Não é uma ação eficaz de combate à criminalidade. Quando saem das favelas, milicianos e traficantes voltam. Não há uma estratégia de segurança. É preciso reforma das polícias, aumento salarial, fim da separação entre polícias Militar e Civil, porque a polícia não é uma ação militar, é de inteligência. O Rio está pior que São Paulo nisso. No Rio, a energia é gasta em megaoperações, que criam manchetes de jornais e satisfazem os que querem ver alguma ação, mas não têm efeito para diminuir a criminalidade. Pelo contrário: levam as pessoas a verem a polícia como a ameaça, e não os criminosos.
Em 2007, o senhor já havia visto a ligação entre milícias, tráfico e a política?
ALSTON: Sim, ouvi depoimentos de relações de políticos com milicianos ou traficantes. Isso envolve corrupção e o fato de que os políticos sabem onde os milicianos estão, mas não agem.(Alessandra Duarte)