Título: Em Wall Street, novo 11 de Setembro
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Fonte: O Globo, 16/09/2008, Economia, p. 21

Bolsas americanas e brasileira têm pior queda deste o atentado ao World Trade Center

Wall Street foi ontem o epicentro de um abalo global, com o colapso do banco de investimentos Lehman Brothers, depois de três dias de discussões entre representantes do governo e banqueiros, e a compra do Merrill Lynch pelo Bank of America (BofA), por US$50 bilhões. A Bolsa de Nova York teve seu pior dia desde o atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. O índice Dow Jones caiu 501 pontos, ou 4,41% - em pontos, foi a maior queda em sete anos, e percentualmente, desde 19 de julho de 2002. O S&P 500 recuou 4,71%, e o Nasdaq, 3,60%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou a maior queda global: 7,59%, o pior desde o 11 de Setembro.

O presidente americano, George W. Bush, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, fizeram pronunciamentos tentando tranqüilizar os americanos. Prevendo pânico nos mercados, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou, no início da madrugada de ontem, a adoção de alguma medidas para garantir liquidez às instituições financeiras, e um consórcio de bancos criou um fundo de US$70 bilhões. E a seguradora American International Group (AIG) correu para obter empréstimos, mas não conseguiu evitar que a agência de classificação Fitch rebaixasse sua nota de "AA-" para "A".

- Ajustes no mercado financeiro podem ser dolorosos, tanto para as pessoas envolvidas como para os empregados das firmas afetadas - disse Bush. - Mas, a longo prazo, estou confiante de que nossos mercados de capital são flexíveis e resilientes e podem lidar com esses ajustes.

Fed injeta US$70 bi no sistema

Paulson assegurou que nunca pensou em usar dinheiro do contribuinte para salvar o Lehman, porque isso poderia estimular outras empresas a assumirem um comportamento de risco. E afirmou que os americanos podem confiar na solidez do sistema financeiro do país:

- Estou comprometido com os reguladores aqui e no exterior, e com os legisladores do Congresso, a tomar as medidas adicionais necessárias para manter a estabilidade e a ordem do nosso sistema financeiro.

Por volta das 3h30m de ontem, o Lehman entrou com pedido de falência pelo Capítulo 11 da legislação americana - processo semelhante ao da concordata no Brasil, pois garante proteção contra os credores. Foi a maior falência da História americana em valor de ativos, segundo Bankruptcydata.com e Bloomberg News. O Lehman tem US$639 bilhões, seis vezes mais que a WorldCom, que entrou em colapso em 2002. As ações do Lehman despencaram 94% ontem, para US$0,21.

O Lehman é a mais nova vítima do estouro da bolha imobiliária. A crise das hipotecas de alto risco (subprime) começou quando o Fed elevou os juros básicos de 1% para 5,25% anuais, paulatinamente, entre maio de 2004 e junho de 2006. As prestações subiram muito e a inadimplência disparou. Fundos de bancos que tinham investido em papéis lastreados em subprime começaram a enfrentar problemas de caixa.

Paulson e os presidentes da Securities and Exchange Commission (SEC, que regula o mercados acionário), Christopher Cox, e do Fed de Nova York, Timothy Geithner, passaram o fim de semana reunidos com banqueiros para achar uma saída para o Lehman. Mas, no domingo, os potenciais compradores desistiram, e, à noite, o BofA fechou a compra do Merrill.

A AIG conseguiu ontem autorização do estado de Nova York para tomar US$20 bilhões emprestados com suas subsidiárias, mas não uma linha de US$40 bilhões do Fed. Segundo o "Journal", o BC americano pediu que Goldman Sachs e JPMorgan colocassem à disposição da AIG entre US$70 bilhões e US$75 bilhões em empréstimos. As ações da seguradora despencaram 61%.

O Fed injetou ontem mais US$70 bilhões nas reservas do sistema bancário, o maior volume desde os atentados do 11 de Setembro.