Título: Mantega: em outros tempos, país já estaria de quatro
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 16/09/2008, Economia, p. 23

Para ministro, crescimento brasileiro será pouco afetado. Meirelles diz que bancos têm colchão de liquidez.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os problemas no sistema financeiro internacional podem se agravar ainda mais, mas assegurou que o crescimento da economia brasileira pouco será afetado. O ministro classificou a atual situação do país como "robusta".

- O Brasil já estaria de quatro, de joelhos, em outra circunstância - disse ele.

Para o ministro, que mantém a expectativa de alta de 5% a 5,5% para o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) este ano, a crise trouxe para o país até agora alguma perspectiva de desaceleração, encarecimento do crédito e menor volume de recursos externos. Não tomar medidas precipitadas, segundo ele, é fundamental para evitar o que chamou de "disparo da manada". Mantega aconselhou os investidores em bolsa de valores a manterem a calma.

- Este não é um momento de precipitações, é um momento de muitas flutuações. Então, para investidores e para correntistas, nada deve ser feito. Devem manter as posições, porque tudo voltará ao normal - afirmou o ministro.

Em entrevista na sede do Banco Central (BC) em São Paulo, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, avaliou que o mercado brasileiro ontem funcionou ontem "com absoluta normalidade". Meirelles lembrou que o Brasil hoje é credor externo e que os bancos nacionais desfrutam de liquidez satisfatória:

- Até o momento, o BC não teve que fazer nenhuma gestão extraordinária de liquidez nos mercados. Os bancos brasileiros têm um colchão confortável de liquidez, na medida em que o seu capital ajustado pela sua exposição ao risco está em níveis superiores aos exigidos pelo BC. Além de não existirem exposições diretas do sistema aos créditos subprime americanos.

Mas Meirelles reconheceu que o país não está imune à crise.

- Não existe um descolamento completo (da crise) de nenhuma economia. Uma crise internacional não é boa para ninguém. O que existe é um aumento da resistência (do Brasil) à crise - afirmou o presidente do BC, concluindo: - Nossa mensagem é de serenidade. (Lino Rodrigues, Ronaldo D"Ercole e Henrique Gomes Batista)