Título: Bovespa despenca 7,59% e dólar fecha acima de R$1,80
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 16/09/2008, Economia, p. 23

ABALO GLOBAL: Petróleo cai 5% com perspectiva de desaceleração mundial. Ações da Petrobras recuam quase 10%

Empresas com ações negociadas na Bolsa já perderam no ano US$340 bilhões em valor de mercado. Moeda americana sobe 1,52%

A enxurrada de más notícias quanto ao futuro das instituições financeiras dos Estados Unidos fez o principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, despencar já na abertura dos negócios, sob o efeito do noticiário do fim de semana. O índice ficou no terreno negativo o dia inteiro e encerrou quase na mínima do dia, em queda de 7,59%, aos 48.416 pontos. Foi a maior desvalorização diária desde o 11 de Setembro de 2001, quando a Bolsa despencou 9,18%.

O dólar, também refletindo parte do estresse mundial e a corrida para títulos do Tesouro americano - considerados os mais seguros do mundo -, fechou em alta de 1,52%, a R$1,808. O risco-país teve alta de 16,54%, para 310 pontos centesimais, a maior pontuação desde 30 de dezembro de 2005.

Das 66 ações que fazem parte do Ibovespa, apenas as preferenciais da Comgás fecharam em alta (0,51%). Segundo estudo da Economática, desde o pico da Bolsa, em 20 de maio, as empresas com ações negociadas na Bovespa já perderam US$535 bilhões em valor de mercado. No ano, a perda é de US$340 bilhões. Em termos percentuais, a bolsa brasileira é a que mais perde (37,9% de seu valor de mercado desde maio e 28% no ano), em comparação com as concorrentes latino-americanas e a Bolsa de Nova York.

A ação que mais caiu no dia foi a da BM&F Bovespa - empresa controladora das bolsas brasileiras -, que se desvalorizou 13,93%. A empresa obtém receita do volume negociado diariamente, que tende a diminuir com a crise financeira. As demais ações do setor financeiro brasileiro também sofreram, embora não tenham ligação direta com a crise de crédito americana. Os papéis do Banco do Brasil caíram 8,86%, os do Bradesco, 7%, e os do Itaú, 6,63%. As ações do Unibanco, que tem parceria com o AIG na área de seguros, caíram 8,06%.

Com a expectativa de impacto dos problemas dos bancos americanos no crescimento mundial, e a conseqüente queda do petróleo, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras caíram 9,94%, para R$36,40 e as preferenciais (PN, sem voto), 9,69%, para R$29,80. O barril do petróleo do tipo leve americano fechou abaixo de US$100 pela primeira vez desde março. A queda em Nova York foi de 5,41%, para US$95,71. Sinais de que o furacão Ike poupou a infra-estrutura de energia também contribuíram para a baixa. O Brent caiu 5,63%, para US$92,38. Já as ações PNA da Vale perderam 9,86% de seu valor, e fecharam a R$33,62, e as ONs caíram 8,81%, para R$38,90.

Segundo Patricia Branco, sócia da gestora de recursos Global Equity, o temor é que outros bancos possam quebrar ou ser vendidos devido a mais perdas com as hipotecas de má qualidade. Para Ivo Chermont, economista da Modal Asset, não é possível enxergar melhora no horizonte. A expectativa agora, diz, é sobre quando os preços dos imóveis nos Estados Unidos vão parar de cair, o que poderia acontecer no fim do primeiro semestre de 2009. No entanto, com o agravamento da crise de crédito, essa estabilização de preços pode ser adiada.

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