Título: Bancos centrais europeus reagem e injetam US$52 bilhões no mercado
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 16/09/2008, Economia, p. 22
Bancos centrais europeus reagem e injetam US$52 bilhões no mercado
Nos primeiros 6 meses de 2008, lucro do setor bancário francês caiu 90%
Deborah Berlinck*
PARIS e FRANKFURT. Após o anúncio do pedido de concordata do Lehman Brothers, bancos centrais europeus anunciaram um socorro conjunto ao mercado, para assegurar liquidez ao sistema financeiro. O Banco Central Europeu (BCE), responsável pela política monetária na zona do euro, injetou 30 bilhões (cerca de US$43 bilhões) no mercado, e o Banco da Inglaterra, outros 5 bilhões de libras (cerca de US$9 bilhões). Ao todo, foram US$52 bilhões em apenas um dia.
Em comunicado, o BCE informou que um total de 51 bancos comerciais apresentaram demanda por 90,3 bilhões (aproximadamente US$128 bilhões), bem acima do volume de recursos oferecido. A instituição não adiantou se fará novos leilões nos próximos dias, mas afirmou que ¿o BCE está pronto para contribuir para a manutenção da ordem no mercado da zona do euro.¿
O Banco da Inglaterra também teve uma demanda superior à esperada, de 24 bilhões de libras (US$43 bilhões), quase cinco vezes o volume ofertado. O Banco Central da Suíça disse que também promoveria leilões de liquidez ¿de maneira generosa e flexível¿, mas não revelou valores.
BNP Paribas é um dos mais resistentes à crise
O agravamento da crise acentuou as perdas do sistema financeiro francês, que, acreditava-se, escaparia com meros arranhões. Ontem, a Bolsa de Paris caiu 3,87%, com os principais bancos liderando as quedas: Crédit Agricole (-11,01%), Societé Générale (-9,93%) e BNP Paribas (-9,93%). E a ministra da Economia, Christine Lagarde, reconheceu que a crise ¿não terminou¿.
Os lucros dos principais bancos franceses caíram de 1,1 bilhão nos primeiros seis meses de 2007 para 94 milhões no mesmo período este ano, num recuo de 90%. Crédit Agricole e Société Générale fizeram um apelo a seus acionistas para reforçar sua posição. O BNP Paribas, número um na França, foi o único que se manteve no azul, com lucro de 3,4 bilhões no primeiro semestre, um dos mais resistentes à crise americana.
`Estamos próximos de uma crise sistêmica¿, diz analista
Para Eric Heyer, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, não há motivo para pânico, pois os bancos franceses estariam em situação melhor que a de ingleses, alemães e americanos.
¿ Não há motivo para pânico. Mas, pela primeira vez, vemos a falência de um grande banco americano sem que as autoridades americanas venham a socorrê-lo. Nunca estivemos tão próximos de uma crise sistêmica ¿ disse.
No setor financeiro e bancário, as perdas já se traduzem em corte de vagas. A Caisses d¿Épargne eliminará 5.300 de 51 mil empregados. O Banques Populaires cortará 850 dos 22 mil postos, e o Calyon, filial do Crédit Agricole, demitirá 500 de seus 13 mi funcionários.
(*)Correspondente (com agências internacionais)