Título: Mais de 113 mil vagas evaporaram nos bancos
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 16/09/2008, Economia, p. 24

Mais de 113 mil vagas evaporaram nos bancos

Outros 20 mil funcionários do Lehman Brothers podem perder emprego. Funcionários devem receber ajuda

Marília Martins*

NOVA YORK. O número de demissões nos bancos e outras instituições financeiras desde o início da crise do crédito imobiliário nos Estados Unidos já chega a 113.400 em todo o mundo. Segundo dados da Bloomberg News, o Citigroup lidera o ranking, com 14.074 funcionários demitidos, seguido pelo Bank of America, com demissões de 11.050. O alemão Commerzbank AG dispensou 9.300 funcionários, enquanto as demissões no falido Bear Stearns totalizaram 9.159 pessoas, cerca de metade dos funcionários.

Apenas nos Estados Unidos, o Departamento do Trabalho estimou em 65.400 o número de demissões no setor financeiro até o mês de agosto, segundo informou ontem a CNN. Cerca de 9.300 dessas vagas eram de Wall Street, o que representa algo em torno de 5% da força de trabalho do centro financeiro.

O pedido de falência do Lehman Brothers e a fusão do Bank of America com o Merrill Lynch devem inflar ainda mais as estatísticas. Em entrevista à CNN, o chefe da empresa de recrutamento de executivos DN Schwartz & Co, David Schwartz, afirmou que não ficaria surpreso se mais de 20 mil funcionários do Lehman Brothers perdessem seus empregos. John Challenger, chefe executivo da firma de reposicionamento global Challenger, Gray & Christmas, acredita que a venda do Merrill Lynch vai ¿inevitavelmente resultar em mais demissões¿.

Já Paul Bernard, um veterano consultor de carreiras, considera que ¿a indústria financeira vai continuar encolhendo e encolhendo rapidamente¿.

`É muita gente demitida ao mesmo tempo¿

Os funcionários do banco de investimentos já se preparam para o pior. A sede do Lehman Brothers em Nova York amanheceu ontem cercada de segurança e de camionetes das principais emissoras de TV. Enquanto os letreiros gigantes continuam a fazer propaganda do banco com imagens de mar e céu tranqüilos, funcionários saíam carregando caixas e esquivando-se da imprensa.

¿ Eles prometeram ajudar a todos a arranjar um novo emprego, mas com uma condição: ninguém pode dar entrevista sobre o que está acontecendo lá dentro. Sinto muito, mas o dia de hoje (ontem) parece um pesadelo ¿ disse um dos funcionários, sem se identificar.

Na frente da porta principal do banco, o técnico de informática Guy Tower, de 42 anos, sete de experiência em redes de computação, empunhava um cartaz pedindo emprego:

¿ A mim ninguém mete medo. Eles não vão ajudar ninguém¿ É muita gente demitida ao mesmo tempo e a crise está brava. Pelo menos, parado aqui na porta, eu consigo protestar contra esta situação absurda ¿ disse Tower.

Muitos funcionários disseram que o dia de ontem estava sendo reservado para fazer reuniões em todos os departamentos a fim de acalmar os ânimos e buscar soluções.

Futuro incerto para profissionais qualificados

Algumas dessas reuniões contaram com a participação de recrutadores de pessoal de agências de recolocação de profissionais no mercado, especialmente convidados. Um deles foi Adam Connors, que participou de reuniões com funcionários do Lehman para convidá-los a participarem de um processo de recolocação no mercado de trabalho:

¿ Hoje (ontem) houve muita tristeza nos corredores do banco, mas o pessoal lá dentro é altamente capacitado e tem grandes chances de uma recolocação no mercado num tempo breve. Participamos das reuniões para animar o pessoal ¿ disse Adam.

Muitos dos demitidos ontem estavam na área de comunicações, que comanda toda a parte de interligação dos sistemas online para transações eletrônicas. Só em 2008, o Lehman Brothers gastou US$921 milhões em tecnologia de informática a fim de otimizar seus negócios online. Agora, o futuro deste pessoal altamente especializado tornou-se incerto. E há ainda pouca informação disponível sobre o destino dos negócios internacionais do Lehman Brothers, com o pedido de concordata nos EUA.

O Lehman Brothers declarou prejuízos de US$13,8 bilhões relacionados a hipotecas de segunda linha. Fundado em 1850, o Lehman Brothers mantém operações em mais de 60 países. Em fevereiro, o banco tinha 28 mil funcionários, mas cerca de 1.500 pessoas já foram demitidas nos últimos meses.

(*) Com Bloomberg News