Título: No Planalto, notícia causa mal-estar
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 17/09/2008, O País, p. 3

Tarso relatou episódio em reunião com Lula e outros ministros

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A prisão do segundo homem na hierarquia da Polícia Federal, Romero Menezes, causou forte desconforto no Palácio do Planalto e levou o ministro da Justiça, Tarso Genro, a fazer um relato minucioso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião de coordenação política, no fim da tarde de ontem. Segundo Tarso, houve constrangimento na cúpula da PF com a prisão.

Pelo relato de ministros que participaram da reunião, o titular da Justiça revelou ao presidente que há um clima de indignação na Polícia Federal. A cúpula da PF entende que não havia elementos suficientes para o Ministério Público Federal do Amapá pedir a prisão do braço direito do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. O presidente Lula ouviu atento as explicações de Tarso Genro, mas evitou fazer qualquer comentário.

- Não tem nada de concreto contra o delegado Romero Menezes além do fato de ele ser irmão da pessoa que está sob investigação - disse Tarso Genro, segundo relatos de participantes da reunião.

O delegado da PF é acusado de usar seu prestígio político para favorecer o irmão, José Gomes de Menezes Júnior, que é dono de uma empresa que presta serviços de limpeza e pretendia entrar também no ramo de vigilância.

O relato de Tarso Genro abriu a reunião de coordenação política, que depois passou a analisar a crise financeira americana, que tomou conta dos mercados internacionais. O ministro da Justiça acrescentou que, além do constrangimento, o episódio gerou um evidente clima de desconfiança na cúpula da PF, já que a prisão atingiu o substituto direto do diretor-geral do órgão.

No Palácio do Planalto, foi descartada qualquer relação direta da prisão de Romero Menezes com a recente crise envolvendo a Abin no episódio do grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Além de Tarso, participaram da reunião no Planalto os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Dilma Rousseff (Casa Civil), José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Franklin Martins (Secretaria de Comunicação), Luiz Dulci (Secretaria Geral), e ainda o chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, e a assessora especial Clara Ant.