Título: Ação de BC americano dá trégua ao mercado
Autor: Frisch, Felipe; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 17/09/2008, Economia, p. 27

ABALO GLOBAL: Bolsa de São Paulo sobe 1,68% e NY, 1,30%. Antes das medidas, Ásia e Europa fecham em queda

Fed mantém taxa de juros nos EUA e bolsas se recuperam. Dólar fecha a R$1,824, com valorização de 0,88%

Felipe Frisch, Juliana Rangel e Gilberto Scofield Jr.*

RIO, NOVA YORK, WASHINGTON e PEQUIM. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conseguiu levar alívio aos mercados ontem. Depois de injetar mais US$70 bilhões no sistema financeiro - mesma quantia de segunda-feira -, o Fed anunciou que manteria a taxa básica de juros inalterada em 2%, citando riscos para o crescimento. Graças a essa decisão, as bolsas de Nova York e do Brasil fecharam em alta, o que não ocorreu com Ásia e Europa.

O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, fechou em alta de 1,30%, enquanto Nasdaq e S&P subiram 1,28% e 1,75%, respectivamente. O principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, fechou em alta de 1,68% ontem, aos 49.228 pontos. Já o dólar comercial encerrou o dia com nova alta, de 0,88%, a R$1,824.

Mas quem olhar apenas o fechamento do dia pode ter a falsa impressão de que foi um dia tranqüilo, alerta Rafael Moysés, gestor da corretora Umuarama. O indicador oscilou mais de 3 mil pontos no dia. Chegou a cair 4,45% na abertura, reduzir as perdas e voltar a cair 3% após a decisão do BC americano.

Ações da Petrobras sobem 5,03% e as da Vale, 3,75%

Mas, na seqüência, o Fed já comunicou que estava com planos para ajudar na reestruturação da seguradora AIG - que culminou com o anúncio da estatização no início da noite. Também aumentou a confiança dos investidores no Fed, com a idéia de que a autoridade monetária deve ter mais informações do que o mercado, e saber o que está fazendo, já que a decisão sobre os juros foi unânime, avalia Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora.

Com as quedas recentes, voltaram a aparecer interessados nas ações da Petrobras, que fecharam em alta de 5,74%, no caso das ordinárias (ON, com direito a voto) e 5,03% (no caso das preferenciais, PN, sem voto) - apesar da nova queda do petróleo. As da Vale também tiveram recuperação: 3,75% (PNAs) e 2,57% (ONs).

O petróleo recuou com a perspectiva de desaceleração na economia mundial. O barril do tipo leve americano fechou a US$91,15, o menor patamar em sete meses, com queda de 4,76%. O do tipo Brent caiu 3,54%, para US$89,22.

Depois do colapso do Lehman Brothers, segunda-feira, analistas achavam que o Fed poderia reduzir os juros em 0,25 ponto percentual. A manutenção provocou, inicialmente, a venda dos papéis, mas houve recuperação depois que os investidores decidiram se concentrar nas implicações positivas da nota do Fed.

- Acho que eles estão tentando mostrar às pessoas que a economia não está em um risco maior por causa do que acontece com algumas firmas de Wall Street - disse à CNN Stephen Stanley, economista-chefe da RBS Greenwich Capital.

"Os riscos de desaceleração do crescimento e de alta da inflação representam uma preocupação significativa", afirmou a nota do Fed. Analistas achavam que, com a turbulência do mercado, o BC deixaria de lado suas preocupações com as pressões sobre os preços.

Petróleo cai a US$91,15, menor patamar em 7 meses

- Lendo esse comunicado, nunca se imaginaria que o céu desabou sobre Wall Street - disse Ian Shepherdson, economista-chefe da High Frequency Economics. - Há o sério risco de o Fed ser visto como Nero, tocando violino enquanto Wall Street queima.

A crise nos EUA tragou os pregões das bolsas asiáticas, repetindo o mesmo da véspera nos mercados ocidentais. Tóquio fechou em baixa de 4,95%, enquanto Seul recuou 6,1%, a maior queda da região, seguida das baixas de 5,44% em Hong Kong e de 4,47% em Xangai.

Apesar de o Partido Comunista chinês ter pedido aos portais financeiros que não fizessem alarde com a crise nos mercados, a decisão do BC da China de reduzir as taxas de juros básicas e o depósito compulsório nos pequenos bancos foi destaque em todos jornais e portais do país.

- O ajuste é menos uma resposta à crise mundial e mais um reflexo do desaquecimento percebido pelas autoridades chinesas em agosto - disse Zhang Jun, diretor do Centro de Estudos Econômicos da Universidade de Fudan.

Na Europa, o FTSE, de Londres, caiu 3,43%, enquanto o DAX, de Frankfurt, caiu 1,63% e o CAC, de Paris, 1,96%.

(*) Correspondente, com agências internacionais

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